Evasão de estudantes na UFG é de 20% no primeiro ano do curso

Índice é maior nos cursos de licenciatura e nos câmpus das cidades do interior

 

Um a cada cinco alunos que conquistaram uma vaga na Universidade Federal de Goiás (UFG), entre os anos de 2006 e 2011, abandonou o curso antes mesmo de completar o primeiro ano. Esse grupo corresponde a 72% do total de estudantes que desistiram de suas vagas na principal e mais disputada instituição de ensino superior de Goiás.

Cursos de licenciatura em Química, Matemática e Física estão entre os que apresentam maior índice de evasão, além dos cursos oferecidos nos câmpus do interior do Estado. Os números comprovam o desestímulo crescente dos estudantes com relação aos cursos de licenciatura, em função da pouca valorização da profissão, e indicam também que há gargalos a serem enfrentados nos câmpus do interior (veja reportagem ao lado).

Levantamento feito pelo POPULAR mostra que 2.817 alunos, dentre os 10.509 que ingressaram em 34 cursos da UFG, não se formaram. Destes, 2.041 desistiram antes de completar 25% da grade curricular. O estudo foi feito com base em dados da UFG, relativos a 34 cursos oferecidos pela instituição, escolhidos pela reportagem. O período abrangido pelo levantamento tem início em 2006, quando todos os cursos já participavam do regime semestral, e se encerra em 2011, data dos últimos dados consolidados da universidade.

Mesmo no caso de alunos que estavam iniciando o terceiro ano do ensino superior, o índice de abandono é elevado, chegando a 18,94%, em 2011. O porcentual é puxado para baixo por áreas em que o abandono é menor que 10%, como Medicina (0,09%), Direito (6,51%) e Engenharia Civil (8,03%), todos em Goiânia. Mas há casos em que a evasão é maior que 60%, como Física, Química e Matemática, todos em Jataí. Nesses cursos, a cada 10 alunos, no máximo 4 se formam.

Especialista em educação, o professor Roberto Lobo, proprietário do Instituto Lobo, com sede em São Paulo (SP), afirma que uma instituição de ensino pública deveria manter índice de formação de 80% dos alunos que ingressam. No Brasil, segundo Lobo, o número médio, no entanto, é de apenas 50%. Tendo como base o ano de 2006, em que, supostamente, todos os estudantes dos referidos cursos já deveriam ter se formado na grade curricular convencional, o levantamento do POPULAR calcula a evasão de 34,33% dos alunos ingressantes. Número que pode até aumentar, pois ainda há alunos ativos.

LINEAR

Pró-Reitora de Graduação da UFG, a professora Sandramara Matias Chaves afirma que a universidade não trabalha com uma taxa específica. Para ela, a evasão universitária não pode ser analisada de maneira linear, pois vários fatores contribuem para que ela ocorra. “Há a opção precoce pelo curso, a decepção do adolescente, questões socioeconômicas ou mesmo a dificuldade na aprendizagem. São várias nuances que determinam o abandono”, diz. Sandramara acredita que não há um abandono da universidade, mas apenas dos cursos.

O músico Pedro Henrique Bernardi-Noleto, de 29 anos, passou por três cursos superiores. Assim que saiu do ensino médio, aos 17 anos, ele optou por cursar Direito na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Sem vislumbrar futuro na carreira de advogado, abandonou o curso e ingressou na UFG para estudar Letras (português-espanhol), em 2004. Pedro, no entanto, também não se adaptou e, no segundo ano deixou o curso e fez cursinho pré-vestibular para ingressar no curso de Música (violão), também na UFG, em que se formou em 2010.

Segundo Pedro, ter de optar por uma carreira profissional ainda muito jovem é um grande problema para quem sai do ensino médio. Além disso, há cobrança social e familiar pela busca de um curso com maior referência social, que possa, em tese, garantir bons rendimentos financeiros. No entanto, mais amadurecido após o segundo curso superior, ele afirma que só então pôde estudar algo com o qual tem mais aptidão e na área em que trabalha, já que ele é guitarrista na banda de rock Dry.

 

Fonte: O Popular