Água do reservatório sob risco

Ausência de mata ciliar, uso de agrotóxicos e adensamento urbano podem comprometer lago

Janda Nayara 14 de agosto de 2013 (quarta-feira)

Reservatório do João Leite

Algas podem comprometer qualidade da água do reservatório do João Leite

Wildes Barbosa
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Lago do João Leite ao lado da Rodovia BR-060: adensamento populacional é fator de risco

 

Com apenas três anos de conclusão, o reservatório do Ribeirão João Leite, que deve abastecer a Grande Goiânia por aproximadamente 27 anos, pode ter a qualidade da água comprometida por diversos fatores, como ausência de mata ciliar nas margens da bacia e do lago, adensamento das áreas urbanas e o uso de agrotóxicos e fertilizantes nas plantações próximas da área.

Fotografias aéreas colhidas por um Veículo Aéreo não Tipulado (Vant) do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG) demonstram a forte concentração e dispersão de algas no reservatório.

O consultor ambiental e pesquisador do Lapig, Sílvio Braz de Sousa, explica que todas as interferências na bacia do Ribeirão João Leite, que possui área aproximada de 761 quilômetros quadrados (km²) e abrange os municípios de Goiânia, Anápolis, Nerópolis, Ouro Verde de Goiás, Goianápolis, Campo Limpo e Teresópolis de Goiás, podem influenciar na qualidade da água drenada para o reservatório. “Imagens de satélite e do Vant mostram que 60% das margens ao longo da bacia são cobertas por pastagem e apenas 23% possuem cobertura vegetal. Essa vegetação protege o rio e consequentemente o reservatório da absorção de partículas do solo e matérias orgânicas”, afirma.

Avaliação de compostos orgânicos naturais da água do reservatório realizada por mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Meio Ambiente da UFG em 2011, concluiu que a mesma apresentava indícios de potencial eutrofização, ou seja, aumento excessivo de algas, que podem diminuir o oxigênio na água e consequentemente impactar a fauna e flora aquáticas.

O professor do Centro de Biologia Aquática da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), Francisco Leonardo Tejerina Garro, explica que as áreas de pastagem ou de densidade urbana potencializam este risco. “As chuvas fazem a lavagem destes solos trazendo grande quantidade de nutrientes para o leito do rio e para o reservatório, contribuindo para proliferação de algas, comuns principalmente em reservatórios antigos”, afirma.

De acordo com Garro, essas algas diminuem a qualidade da água, aumentando os custos no seu tratamento para o consumo, principalmente quando as espécies produzem toxinas nocivas à saúde. Os apontamentos, segundo os estudiosos, reforçam a necessidade de medidas para a conservação do João Leite, através de gestão a longo prazo.

 

Saneago diz que qualidade é boa

Vandré Abreu 14 de agosto de 2013 (quarta-feira)

 

Gerente de qualidade do produto da Saneamento de Goiás S.A. (Saneago), a bióloga Maura Francisca da Silva revela que a estatal faz monitoramento diário, semanal e quinzenal da água do reservatório do Ribeirão João Leite. Até então, os resultados são positivos, segundo Maura. Mas o adensamento urbano das cidades ao redor, desmatamento da mata ciliar e despejo de produtos agrícolas e industriais no leito do rio preocupam a Saneago.

A gerente confirma a presença de algas ao redor da barragem, mas que elas ainda não realizam o processo de eutrofização na água. “O reservatório é muito novo, ainda não apresenta perigo para eutrofizar, mas é algo que deve ser monitorado e fiscalizado”, garante. O monitoramento diário e semanal é feito em relação aos aspectos físico-químicos da água. Já a análise hidrobiológica, que constata e monitora a presença das algas, é feita de 15 em 15 dias. Segundo Maura, o resultado de todas análises é compatível com a resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2005. Já o relatório hidrobiológico atende a resolução 2914 do Ministério da Saúde, que avalia a presença de cianobactérias na água.

Fonte: O Popular