Orientação aponta caminhos

Ter de escolher uma profissão em meio à já turbulenta fase da adolescência pode não ser uma tarefa fácil - embora comum - para muita gente com menos de 18 anos. Sobretudo quando se sabe que não existe nenhum tipo de receita para acertar nessa escolha ou a mínima garantia de que o resto de uma vida inteira esteja, de fato, decidido naquele momento da inscrição para o vestibular.

Atualmente, não há porque sofrerem sozinhos família e vestibulandos: profissionais habilitados, na área da Psicologia, podem auxiliar nesse difícil processo, apontando caminhos, descortinando possibilidades e promovendo o autoconhecimento necessário para que esse momento de escolha seja o menos sofrido possível. É a chamada orientação profissional, que deixou de ser vocacional, e ganha dimensões mais abrangentes do que simples testes.

“A orientação vocacional parte de uma concepção de vocação inata, de que a pessoa nasceu para aquela profissão. Estudos recentes mostram que não é bem assim, já que, ao longo da vida, você vai desenvolvendo habilidades e interesses e vive em meio a um determinado contexto, inclusive familiar, que pode influenciar no desenvolvimento das habilidades”, esclarece a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Alba Cristhiane Santana, doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de Brasília (UnB), com experiência na área de Psicologia Educacional e membro da Comissão de Educação do Conselho Regional de Psicologia (CRP-GO).

Segundo a especialista, o trabalho dura, no mínimo, dez sessões em consultório e, em algumas situações, pode envolver a participação dos pais. É recomendado para auxiliar até quem já atua no mercado de trabalho, mas, no que diz respeito aos cada vez mais jovens vestibulandos, contribui para o processo de amadurecimento e autoconhecimento, ajudando-o a fazer as suas próprias escolhas - não apenas profissional.

“A toda hora, durante toda a nossa vida, fazemos escolhas. É um processo sofrido para qualquer pessoa, imagine para um adolescente”, destaca Alba Santana. “A ideia é ajudar esse jovem, por meio de instrumentos adequados, a estabelecer critérios de escolha, pesar vantagens e desvantagens. Nem sempre o adolescente e os pais conseguem lidar com esse momento de forma sensata, daí a importância do trabalho de orientação profissional”, acrescenta.

Projeto individual

Rivanara Nápoli, gestalt-terapeuta e especialista em orientação profissional, lembra que, ao contrário de “nascer pronto” ou “ter vocação” para uma determinada profissão, a escolha da futura carreira deve estar pautada em um projeto de vida, individual. “O futuro é uma incógnita para todos nós, não há como prever. O que posso dizer é que, desenvolvendo bem o que existe em termos de habilidade e interesse, o jovem vai ter prazer, vai fazer bem-feito aquilo que escolheu, independentemente das flutuações e oscilações naturais do mercado de trabalho”, afirma.

A terapeuta lembra que o momento dessa escolha tão importante ocorre em um período de turbulências para os adolescentes, em que uma série de descobertas - com relação à família, ao próprio corpo, aos sentimentos e às relações sociais - estão sendo feitas. E, tudo, em meio à imaturidade tão comum nessa fase da vida, que impede o autoconhecimento e a segurança necessários na hora de tomar uma decisão tão concreta e definitiva para toda a vida.

“O adolescente sofre, nessa fase, pressões de todos os lados, da sociedade, da família, dos amigos, da escola e do mercado de trabalho. Existem, também, as pressões internas ou veladas, como, por exemplo, de ter que optar pela Medicina porque o pai é médico e ele deve herdar o nome, os clientes e o consultório. É complicado ter certeza de alguma coisa nesse contexto”, considera Rivanara.

De acordo com a psicóloga, no consultório, o profissional vai envolver os interesses, personalidade e habilidades do adolescente no processo de escolha profissional, somados ao máximo de conhecimento e informações a respeito do curso e do mercado, suas variadas nuances e facetas. “O ideal é conduzi-lo a um campo o mais neutro possível, para que ele possa entrar em contato consigo mesmo, com o que chamamos de vazio fértil, cheio de possibilidades que podem surgir. O objetivo é que o estudante possa separar o que é realmente dele e o que é da sociedade ou da família nesse processo”, argumenta a especialista.