Pedro Ludovico e o sonho que virou realidade

Por sua coragem e pioneirismo, Pedro Ludovico Teixeira, o fundador de Goiânia, conquistou o título de empreendedor visionário

“União dos povos”. Esse é o significado da palavra “Goiânia”, que dá nome a uma das capitais mais jovens do país. Com apenas 80 anos, a cidade já acumula inúmeros títulos, desde a mais arborizada até a mais desigual das capitais.
Na semana de seu octogésimo aniversário, a metrópole conserva um ar de interior, mas guarda em seu processo histórico a pretensão de ser uma megalópole, pelo menos para a época de sua criação.
Quem conta isso é o doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Eduardo José Reinato. O planejamento inicial, coordenado pelo arquiteto e urbanista Atílio Correia Lima, previa cerca de 50 mil habitantes.
Hoje, com 1,3 milhão, a ideia pode parecer ingênua, mas segundo Reinato, o planejamento de Goiânia foi “faraônico” para a época e o local. “Naquele tempo não se planejava muito mais do que isso. E temos que pensar que aqui era um imenso vazio. Goiás [a cidade] não tinha mais do que 17 mil habitantes, e a grande maioria vivia na zona rural”, contextualiza.
O projeto de fazer a capital do estado de Goiás, seguindo moldes europeus das cidades jardins (com ruas largas e arborizadas), guarda em sua execução inúmeros aspectos sociais, políticos e econômicos da época.
Professor de mestrado e diretor do Departamento de História, Geografia, Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), o historiador afirma que um dos principais fatores que motivaram a transferência foi o aspecto econômico, acelerado pela chegada da estrada de ferro, na década de 1910.
“A ferrovia concentrou a economia no Sul e Sudeste do estado. Era o polo dinâmico, por onde tudo entrava e saía. Enquanto isso, a Cidade de Goiás continuava isolada e estagnada no tempo”, contextualiza.
Este, inclusive, foi um dos fatores que determinou a escolha do local da nova capital. “Quando Goiânia foi fundada, a estrada de ferro já estava chegando em Anápolis”, diz Reinato. Outro fator decisivo para a mudança foi a questão política.
Segundo Reinato, a antiga capital goiana era um reduto Caiadista, que manteve o monopólio do estado por anos. Quando Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor, em 1930, como recompensa por ter apoiado Getúlio Vargas durante a revolução, a família Caiado saiu do poder e Ludovico acelerou o processo de transferência para impedir que a capital continuasse sob os domínios da família.
A cidade de Campinas (região escolhida para abrigar a nova capital) não tinha nenhuma força política, mas ficava equidistante de cidades históricas e próxima a municípios importantes da época, afirma o historiador. Por isso era vista como o local perfeito.
Em outubro de 1933 ocorreu a fundação da nova capital, mas somente quatro anos mais tarde aconteceu a transferência definitiva. Essa “mudança de endereço” trouxe inúmeras transformações para a região. “Foi isso que ajudou a desenvolver Goiás como um todo. Trouxe uma dinâmica econômica que, antes, pertencia a Anápolis, um núcleo modal responsável por transmitir e disseminar a economia de Goiás. Muitos reclamavam que a antiga capital pouco olhava para as regiões mais afastadas, como o norte do estado,onde hoje está o Tocantins”, conta.
Sonho antigo

A primeira capital goiana tinha sido escolhida quando a província era aurífera: tinha do ouro sua principal fonte de riqueza. Posteriormente, a criação de gado e a agricultura passaram a ser fatores preponderantes no desenvolvimento, e os interesses mudaram. “Já na época da criação da Cidade de Goiás se discutia a possibilidade de transferir a capital”, destaca o professor Eduardo José Reinato, explicando que, entre outros problemas, o município apresentava falta de infraestrutura, insalubridade e dificuldade de comunicação.
No aspecto histórico, a fundação de Goiânia foi fundamental para estimular outra mudança: a da capital do Brasil. “O surgimento de Goiânia foi uma experiência bem sucedida que simulou a construção de Brasília. Foi um modelo que, sem dúvida alguma, ajudou no projeto. Isso sem contar na infraestrutura que já sustentava nossa capital e ajudou a sustentar os primeiros anos da nova cidade. A proximidade foi decisiva”, comenta Reinato.
Mas apesar das conquistas e de sua importância, Goiânia já acumula inúmeros desafios, entre os quais estão a mobilidade urbana, a segurança pública e a concepção de conforto urbanístico. “Um dos maiores danos que a capital sofreu foi a especulação imobiliária, que tem ocorrido nos últimos 30 anos. Agora é preciso pensar a cidade para quem mora nela e não para quem lucra com ela.”
Planejada para se limitar ao famoso “véu de noiva”, formado pelas avenidas Araguaia, Goiás Tocantins e Paranaíba, de encontro à Praça Cívica, a capital de Goiás cresceu e hoje enfrenta os problemas típicos das grandes metrópoles mundiais.


Origem cercada por curiosidades

aA abundância em água, o solo plano (a cidade está situada em uma imensa chapada), e a proximidade com grandes centros foram fatores que influenciaram na escolha do local onde seria construída a nova capital de Goiás: Goiânia.
aÀs margens do Córrego Bota­fogo, compreendida pelas fazendas Criméia, Vaca Brava e Botafogo, no então município de Campinas. Esse foi o local delimitado para abrigar a nova capital.
aO aniversário de Pedro Ludo­vico Teixeira era no dia 23 de outubro, mas ele esperou mais um dia para fazer o lançamento da pedra fundamental. Tudo em homenagem aos três anos do início da Revolução de 1930.
aPetrônia. Esse foi o nome escolhido para a nova capital por meio de um concurso feito pelo jornal O Social. A denominação permaneceu por cerca de um ano, mas, segundo alguns historiadores, Pedro Ludovico decidiu passar por cima do resultado e optou por Goiânia, uma das sugestões com menor número de votos.


História na TV

Os 80 anos de Goiânia também ganhará homenagens da Universidade Federal de Goiás. Na quinta, 24, dia em que a cidade comemora seu aniversário, a TV UFG (canal 14 em sinal aberto e canal 13 da Net) estreia a série “Nossa História Daria um Filme”, que será exibida diariamente, às 20 horas, até o dia 4 de novembro.
A série será composta por 11 documentários e começará com um especial sobre Goiânia, seguido de documentários, de 40 minutos de duração, sobre alguns dos principais bairros da capital, como o Novo Mundo, Nova Esperança, Vila Nova, Setor Pedro Ludovico, Vila União e Jardim Guanabara, além do Centro e de Campinas, que terão dois episódios cada.


Memórias da cidade

Com um rico acervo audiovisual, que ajuda a reconstituir boa parte da história de Goiânia, o Museu da Imagem e do Som (MIS), na Praça Cívica, criou uma programação especial para comemorar os 80 anos da capital goiana.
Em parceria com o Museu Antro­pológico da UFG e Rede de Educa­dores em Museus de Goiás, a visita guiada “Ocupe o Museu com Me­mó­rias de Goiânia” inclui até a audição de discos de vinil, que inclui intérpretes e compositores que nasceram aqui ou escolheram Goiânia para morar.
Para quem curte história, destaque especial para um LP que registra o Batismo Cultural de Goiânia. As visitas podem ser realizadas de segunda a quarta, no período de 21 a 23, das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas. Já a audição dos vinis estão disponíveis no dia 22, terça, das 14 às 17 horas e no dia 23, quarta, das 9 às 17 horas.
A parte fotográfica é uma boa opção para os professores de História, que podem levar seus alunos para conhecer um pouco mais sobre a cidade a partir de seus aspectos históricos, sociais, econômicos e arquitetônicos.
O Museu da Imagem e do Som (MIS) integra o Centro Cultural Marieta Teles Machado, na Praça Cívica, Centro. Ao lado do Cine Cultura. A programação tem entrada franca. Informações: (62) 3201-4645 ou pelo e-mail goias.mis@gmail.com.


Atrações musicais no aniversário

As oito décadas da capital idealizada por Pedro Ludovico Teixeira serão comemoradas com uma boa dose de cultura. Confira algumas atrações:

Vaca Amarela
   No dia 24 de outubro será lançado o Festival Vaca Amarela, no Centro Cultural Martim Cererê. A pré-festa acontecerá a partir das 15h30 e reunirá 12 bandas goianas, que iniciarão os shows a partir da meia-noite. Ingressos antecipados a R$15.


Zeca Baleiro
   Ao lado de sua banda, o cantor e compositor faz show na Praça Cívica na quarta, 23, às 21h30. A programação cultural da prefeitura de Goiânia inclui também apresentação da banda Jota Quest, no  estacionamento do Parque Mutirama, a  partir das 19h30. Entrada franca.

Fonte: Tribuna do Planalto