Os grandes construtores de Goiânia

Historiadores e autoridades destacam os administradores mais marcantes na história da cidade, de Pedro Ludovico a Paulo Garcia

 

Pedro Ludovico Teixeira,
governador (1930-1936; 1937-1945;1951-1954)

* Este foi o primeiro grande líder de Goiânia. Depois da Revolução de 1930, com o apoio de Getúlio Vargas, mudou a capital do Estado, que antes era Goiás Velho, para Campinas. Planejou Goiânia como uma cidade culta, moderna e jovem, servindo de exemplo para a construção de Brasília.

Venerando de Freitas Borges, prefeito (1935-1945; 1951-1955)
* Já este foi o primeiro prefeito oficial de Goiânia. Ao todo governou Goiânia por 13 anos e deu continuidade ao trabalho de Pedro Ludovico Teixeira e fundou a primeira Escola de Comércio de Goiânia, a Faculdade de Ciências Econômicas de Goiás e também o Conselho Nacional de Educandários Gratuitos de Goiás (CNEG).


Iris Rezende, prefeito e governador (prefeito em 1966-1969 e 2005-2010; governador 1983-1986 e 1991-1994)
* Considerado por muitos como o herdeiro de Pedro Ludovico Teixeira, Iris Rezende (PMDB) criou a ideia de uma Goiânia sempre em movimento. Além disso, devido à sua simplicidade, é, depois de Venerando, o prefeito mais lembrado pela população. Iris também é lembrado por ser um tocador de obras. Dentre as mais importantes, estão o Parque Mutirama, o Centro de Convenções de Goiânia, a Rodoviária, pavimentação e construção de vários conjuntos habitacionais.


Nion Albernaz, prefeito (1983-1986; 1989-1992; 1997-2000)
* Nion foi prefeito na mesma época em que Jaime Lener governava Curitiba. Enquanto a cidade paranaense se firmava como a mais arborizada do Brasil, Nion trabalhou para que Goiânia atingisse o mesmo patamar. No início dos anos de 1990, a capital goiana se tornou a segunda cidade mais ajardinada do país, título que ainda é lembrado até hoje.


Pedro Wilson, prefeito (2001-2004)
* Para especialistas, os primeiros dois anos do mandato de Pedro Wilson marcaram o gestor devido à maior participação do povo e atendimento às demandas sociais. Além disso, enquanto o petista administrava Goiânia, houve a revitalização da Avenida Goiás, priorizando a arquitetura original da cidade, e também a construção do Mercado Aberto na Avenida Paranaíba.


A capital do Estado chega seus 80 anos na próxima semana. Em meio à história de suas dez décadas, Goiânia foi governada por 24 prefeitos diferentes,  que colocaram as mãos no município e tentaram explorar todo o seu potencial. E, durante todo esse tempo, alguns foram mais marcantes e decisivos que outros. Para a professora Raquel Teixeira, diretora executiva da Fundação Jaime Câmara e ex-deputada federal, tudo começa na criação de Goiânia, com Pedro Ludovico Teixe­ira.“Todo o crédito da construção da cidade deve, primeiro, ser dado aos seus idealizadores originais”, salienta. “O que Goiânia é hoje devemos a essas pessoas”, completa.
Nasr Chaul, professor da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás (UFG) e gestor do Centro Cultural Oscar Niemeyer, cita o mais emblemático dos gestores que passaram pela cidade foi o primeiro deles, Pedro Ludovico Teixeira, em 1930. “Ele recuperou uma ideia de mudança ao transferir a capital de Goiás Velho para Campinas”, explica.
Pedro Ludovico foi um dos líderes políticos da Revolução de 1930. E, depois da vitória da mesma, com o apoio do então presidente Getúlio Vargas, tornou-se Interventor Federal do Estado. “Na mesma noite em que foi declarada a vitória da Revolução, foi à Praça de Goiás Velho e, com um revólver na mão, como dizem, disse que mudaria a capital do Estado de lugar”, conta o escritor Bariani Ortêncio. Ele explica que a antiga capital já não merecia seu título. “As casas eram emendadas, o sol não entrava nos aposentos, muito menos o ar. Era uma cidade doente, que não tinha condições de crescer mais”, completa.
Apesar das dificuldades financeiras de Goiás, superadas com o apoio de Getúlio, Pedro escolheu Campinas como a nova capital de Goiás. Já naquela época, Campinas tinha quase 120 anos e era uma das mais importantes do Estado. “Pedro foi um idealista, um administrador correto e de grande alcance”, destacou o ex-governador Iris Rezende (PMDB). Além disso, foi uma decisão também embasada nas ideias de Getúlio na época, preocupando-se cada vez mais em desenvolver o Centro-Oeste do Brasil. Foi nesse mesmo período que aconteceu a chamada Marcha para o Oeste e também a criação da Fundação Brasil Central.  
A ideia era fazer um município moderno e jovem, contrapondo-se à imagem ruim que o Estado tinha na época. Para isso, entraram em cena a firma dos irmãos Coimbra Bueno, que aumentaram bastante o traçado da cidade. A administração das obras ficou por conta do engenheiro Eurico Viana e a arquitetura, de Attilio Corrêa Lima. Este trouxe à cidade um conceito de Art Déco, que definiu toda a estética goianiense. Projetos depois assumidos por Armando de Godoy.
Três anos depois da Revolução de 1930, em 24 de outubro 1933, Pedro Ludovico Teixeira lançou a pedra fundamental de Goiânia, no local onde, hoje, está o Palácio das Esmeraldas, na Praça Cívica. E nove anos depois, em 1942, quando a cidade já tinha 14 mil habitantes, houve um batismo cultural para a inauguração do município, com a presença de aproximadamente 1600 autoridades. Bariani Ortêncio ainda relembra que todo esse processo vivido por Pedro Ludovico fez com que a cidade e seu criador servissem de modelo para que Juscelino Kubitschek construísse Brasília anos depois. “Além proporcionar o desenvolvimento o local, dando uma nova vida para os goianos, inspirou Juscelino a construir a Capital Federal”, completa Iris Rezende.

Gestores
Além de Pedro Ludovico Teixeira e todos os que auxiliram na criação de Goiânia, Eduardo José Reinato, professor de História do Brasil da PUC-GO, cita alguns nomes que, para ele, marcaram a história do município de alguma forma. O primeiro deles é Venerando de Freitas Borges, que, depois da criação oficial da cidade, foi nomeado como prefeito pelo próprio Pedro e governou por 13 anos. De acordo com o ex-prefeito de Goiânia Nion Albernaz (PSDB), Venerando fez uma administação exemplar para a época, o que causou muita simpatia entre os goianienses. “As pessoas eram apaixonadas por ele. Por onde passava, todos queriam cumprimentá-lo”, conta.
Ele se preocupou em mo­dernizar Goiânia ao máximo, lembra Bariani. Venerando abraçou a ideia de uma cidade moderna e jovem, construindo a Faculdade de Ciências Eco­nômicas de Goiás e fundando a primeira Escola de Comércio de Goiânia. Além de fazer na capital grandes obras, visando atrair um público culto, como o Teatro Goiânia, o Cine Teatro de Campinas e o Grande Hotel.
Passados alguns anos, já na década de 1960, o professor relembra Iris Rezende (PMDB), que iniciou a carreira na política como vereador, foi deputado estadual e, posteriormente, prefeito, em 1966. “Foi ele que começou com a ideia de uma cidade em movimento”, salienta. E, de acordo com Nion Albernaz, ele inovou a administração ao formar um grupo para um plano de governo, focando em asfaltar boa parte da cidade.
Depois disso, Iris foi governador por dois mandatos e, no fim do segundo, chegou ao Senado, onde ficou por oito anos. Tempos depois, foi prefeito de Goiânia novamente, passando o cargo para seu vice, Paulo Garcia (PT), para concorrer ao governo. Isso sem contar os ministérios da Agricultura e da Justiça. Eduardo pontua que Iris é, depois de Pedro, o gestor mais popular que Goiânia e Goiás tiveram, tanto pelas obras quanto pela simpatia com os eleitores. “Ele está no imaginário da população”, explica. “Só faltou ser Presidente da República”, completa Bariani
Ainda na lista do professor Eduardo, ele destacou Nion Albernaz, o responsável pela ajardinação de Goiânia. “Lem­bro-me perfeitamente das flores de Nion”, complementa Raquel Teixeira. Segundo o próprio ex-prefeito, ele estava na Avenida 85 quando viu um motorista jogar um papel na rua. “Então eu pensei: o que eu posso fazer para que um cidadão como ele possa ter mais respeito pela sua cidade?”, explica Nion.
Então, Nion juntou-se a Airton Neves, que ajudou a transformar Goiânia na cidade mais ajardinada do país. Isso sem contar os projetos sociais. “Profissionalizamos vários jovens com o projeto Tra­ba­lhando Com As Mãos, tiramos vários usuários de drogas das ruas e melhoramos a saúde do município”, relembra.
E, terminando a lista, Edu­ar­do relembra Pedro Wilson (PT). “Os dois primeiros anos dele foram fantásticos”, destaca. Segundo o doscente, nas mãos de Pedro Wilson, Goiânia teve as demandas mais ouvidas. Além disso, em sua administração, aconteceram dois fatos cruciais na história do município: a revitalização da Avenida Goiás e a criação do Mercado Aberto, na Avenida Paranaíba.

Orgulho
Goiânia foi uma cidade planejada, mas isso não a privou de alguns problemas que surgiram à medida que ela foi crescendo. Raquel Teixeira e Bariani Ortêncio destacam o trânsito. “As gestões não se prepararam para lidar com problemas de mobilidade”, salienta Raquel. Ela também cita o lixo e a falta de cuidado com o meio ambiente. Do outro lado, o escritor critica que a cidade é, hoje, mal administrada e, por isso, aparecem vários problemas.  
Eles, entretanto, não escondem a paixão pela cidade. “Se fosse para resumir Goiânia em uma frase, diria que é o melhor lugar para se viver, apesar de tudo”, destaca Bariani. Para ele, a cidade não é grande, mas tem tudo de uma metrópole. “É a cidade ideal para se morar”, avalia. Tudo o que realizou em vida foi graças à estrutura da cidade e, por isso, Bariani diz ser apaixonado pelo município.
Já Raquel explica que os contrastes que existem na cidade a encantam. “O goiano manteve a simplicidade ao longo do tempo e tem orgulho disso”, salienta. Ela destaca, ainda, a sofisticação cultural existente em Goiânia, com artistas plásticos, orquestra e literatura. “O fascínio de Goiânia é ser esse grande paradoxo”, completa. Ela finaliza dizendo que a identidade de um povo é refletida em sua história e cultura, além das heranças deixadas por todos os gestores que passaram por Goiânia.

Fonte: Tribuna do Planalto