Professores dão dica para se preparar para redação

Realizada na segunda etapa do Vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG), a prova de Redação é uma das que mais geram expectativas entre os candidatos - neste ano, ela deverá ocorrer no dia 2 de dezembro, data prevista no cronograma divulgado pela instituição.

Tanta ansiedade pode ter como explicação o fato de não se saber, ao certo, qual pode ser o tema da vez, ou, então, a falta de habilidade para concatenar as ideias, manter aquela tão esperada coerência no texto, usando o máximo de criatividade possível, e, ainda por cima, sem escorregar no português ... É, a tarefa não é mesmo fácil!

Se não há receita para acertar a mão e conquistar os corações e mentes dos corretores da temida Redação da UFG, algumas dicas de quem entende do assunto podem, ao menos, ajudar.

O POPULAR ouviu três professores da área a respeito da prova e traz, aqui, um guia rápido para os candidatos se preparem melhor nesses dias que ainda restam até a definitiva ‘prova de fogo’.

Para a professora Sandra Paro, mestre em Crítica Literária, que ministra as disciplinas de Redação e de Língua Portuguesa em escolas de Ensino Médio e faculdades particulares, o candidato que almeja um bom desempenho na prova deve estar em dia com a informação, para demonstrar o seu conhecimento de mundo, observação da realidade, e opinar sobre os temas propostos utilizando exemplos.

“A julgar pelos últimos vestibulares, os temas escolhidos pela UFG são mais amplos, nada muito específico, como ‘Wikileaks e espionagem digital’, por exemplo. Sendo amplos, permitem e exigem exatamente esse tipo de postura e abordagem por parte do candidato”, avalia.

Ela destaca que a coletânea de textos de apoio para o desenvolvimento do tema proposto é muito importante para ajudar o candidato na construção de sua ideia.

“A leitura cuidadosa da coletânea é fundamental”, recomenda. De modo geral, diz a especialista, o bom candidato sempre deve apostar nas principais manchetes do ano, como elementos para desenvolver o seu trabalho.

Sandra Paro lembra algumas das redações anteriores, em processos seletivos da Federal: ‘Pânico Moral: Estratégia para promover a qualidade de vida ou para controlar a sociedade pelo medo?’, com opções para produção de reportagem, crônica e carta de leitor; ‘Entre a cultura do individualismo e manutenção dos valores sociais’, com opções de artigo de opinião, carta de leitor e conto; ‘A busca pela juventude eterna: solução ou agravamento do conflito entre gerações?’, com opções de manifesto e conto; ‘Amor na contemporaneidade: condição para a realização pessoal ou aprisionamento de subjetividades?’, com opções para editorial ou conto; e ‘O que as transformações da escrita revelam a respeito das transformações do homem’, com opções para a produção de artigo de opinião, carta de leitor ou biografia.

De acordo com Carlos André Pereira Nunes, mestrando em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), professor de Língua Portuguesa e Redação e autor dos livros ‘A nova ortografia da língua portuguesa’ e ‘Na ponta da língua’ - ambos pela editora Kelps -, os temas de Redação da UFG são escolhidos com base em reflexões que a banca examinadora requer que o candidato faça a respeito de assuntos cotidianos.

“Em um tema como ‘A Cultura do Individualismo e a Manutenção dos Valores Sociais’, por exemplo (um dos temas já propostos pela instituição), o candidato deve discutir a lógica das mudanças da sociedade moderna, de maneira que exponha argumentos - caso o gênero seja argumentativo (artigo de opinião, editorial, crônica argumentativa) - que gerem contrapontos aos valores da pós-modernidade”, explica.

“Para tanto, o vestibulando deve citar autores como Bauman, Debord e Gilberto Freire, de modo que tais autoridades estejam a serviço do projeto de texto. Disso, se conclui que não basta apenas informação, deve-se ter um projeto definido a serviço do texto”, acrescenta Carlos André, lembrando que a banca de corretores da UFG valora as redações com base em critérios muito claros: tema; coletânea; gênero; modalidade escrita da Língua Portuguesa; e coesão e coerência.

“Mais importante que o candidato tentar adivinhar o tema, é que se mantenha informado e procure ter leitura crítica”, orienta ele.

Ricardo Sena, professor de escolas particulares e doutorando em Linguística na UFG, alerta os vestibulandos para que leiam atentamente o Manual do Candidato antes de fazer a prova de Redação.

“Muitos não o fazem, e, às vezes, as dúvidas que eles têm estão respondidas ali mesmo; não devem ignorar ou subestimar o Manual nem o que ele diz sobre a produção de texto”, argumenta.

De acordo com ele, as propostas de temas de Redação no Vestibular da UFG são escolhidas levando em conta a realidade que nos cerca, os discursos que circulam socialmente e que nos instigam, nos mobilizam, nos fazem pensar.

“São propostas que levam em conta que a linguagem é essencialmente social e interativa. Às vezes, os temas adotam um viés mais subjetivo, como aconteceu em alguns processos seletivos cujos temas foram memória, felicidade, amor na contemporaneidade. Outras vezes, temas mais objetivos, como relação entre gêneros, interferência do mundo virtual nas relações sociais. Todos, temas muito bonitos, porque possibilitam que o candidato se posicione em relação a eles, discuta-os e chegue às conclusões que achar pertinentes e válidas. Diria que todos, às vezes mais, às vezes menos filosóficos, são instigantes”, considera Sena.

Quanto a possíveis dúvidas sobre que tipo de linguagem é mais valorizada, pelos corretores, na prova - se a erudita ou a menos formal -, o especialista afirma: “Depende”.

Depende do gênero escolhido. “Um artigo de divulgação científica, por exemplo, exigirá do candidato o uso de uma linguagem mais elaborada, mais formal. Já a crônica ou uma página de diário, permitirá o uso de uma linguagem menos formal”, esclarece, destacando que alguns “abusos” devem ser evitados em qualquer gênero, como o uso do ‘internetês’, o excesso de gírias e a coloquialidade.

Fonte: O Popular