Tradição de luta no Estado atraiu guerrilhas rurais

31 de março de 2014 (segunda-feira)

As guerrilhas que se desenvolveram no interior goiano provam que a autocrítica do ex-militante Edmilson de Souza Lima, jornalista que colaborou com a ALN em Goiás, faz sentido (leia acima). Basta olhar o que aconteceu com os focos de resistência rural à ditadura militar embrenhadas em regiões pouco habitadas, como o Bico do Papagaio, palco dos massacres da Guerrilha do Araguaia. Mas naquele momento, Goiás parecia ser uma das melhores opções para esse tipo de iniciativa. “Aqui era uma região conflagrada antes do golpe e por isso atraiu tantas organizações”, analisa o historiador David Maciel, da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Goiás sempre jogou um papel importante neste aspecto”, concorda o ex-deputado Aldo Arantes, que foi membro da Ação Popular (AP), organização que lutou contra a ditadura militar. “Goiás tem essa tradição de luta”, acrescenta. Desde a década de 1950 havia conflitos sociais latentes que por vezes explodiam no Estado.

 Um deles resultou na única experiência em que posseiros expulsaram grileiros à mão armada e depois conseguiram forçar o Estado a dar a titularidade das terras. Trata-se da “guerra” de Trombas e Formoso, liderada pelo ex-deputado estadual José Porfírio. Após o fim dos conflitos, o ex-governador Mauro Borges deu a posse da terra aos camponeses, ainda que depois tenha escrito ao primeiro presidente do regime militar, o general Castello Branco, justificando que havia feito isso por imposição de ordens judiciais, garantindo que combateu focos de resistência na região. Para os movimentos de esquerda, esta era uma fonte de inspiração. Os guerrilheiros eram influenciados pelas teorias e táticas que pregavam a guerrilha rural como forma de sufocar a cidade com a força das massas camponesas. “Outra razão é a proximidade de Brasília, um dos centros do poder”, explica Maciel.

 “A experiência de Trombas e Formoso foi muito emblemática em prol da reforma agrária”, pontua Aldo Arantes, ele mesmo um participante de experiências do gênero no interior de Alagoas em um período em que, perseguido pela ditadura, precisou viver na clandestinidade. Depois de ter liderado a União Brasileira de Estudantes (UNE) durante a crise da Legalidade em 1961, em que um primeiro golpe militar foi ensaiado para impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros, e de ter rompido com a Juventude Universitária Católica depois de ter sido expulso da organização pelo Vaticano por suas ideias de esquerda, Aldo foi um dos dirigentes da Ação Popular. “A AP tinha uma linha mais radical”, admite.

Fonte: O Popular