Divergência em preço atrasa cronograma de transferência

Empresas contratadas pelo Estado e União divergem sobre valor de dívidas da empresa. Atraso impede também liberação de empréstimo

Fabiana Pulcineli 09 de abril de 2014 (quarta-feira)

Sem o alinhamento entre avaliadoras sobre o preço da Celg, o cronograma para a transferência oficial de 51% das ações da empresa para a Eletrobras terá atraso de pelo menos uma semana. O calendário inicial previa para ontem a assinatura da promessa de compra e venda das ações, após acerto em relação ao valor da companhia. O contrato definitivo seria assinado em 6 de junho.

Com o atraso, fica adiada também a liberação do empréstimo de R$ 1,9 bilhão para a CelgPar (holding), que será utilizado para tornar positivo o patrimônio líquido a mercado da Celg e, consequentemente, abrirá condições para os investimentos necessários. De acordo com a previsão inicial, o contrato de financiamento sairia hoje e a liberação dos recursos no dia 25 de abril.

A reportagem apurou que novamente houve diferença de mais de 10% entre valores apontados pelas duas avaliadoras, em simulações iniciais. A Deloitte, contratada pela Eletrobras, aponta patrimônio líquido a mercado de R$ 1,6 bilhão negativo. Já a Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape/UFG), contratada pelo Estado, indica pouco menos de R$ 1 bi de PL a mercado.

Por conta das divergências, a transferência das ações já está atrasada em um ano, considerando o cronograma inicial, acertado quando houve o acordo sobre a operação, em dezembro de 2011.

Durante oito meses, houve queda de braço entre governo goiano e Eletrobras com relação a considerar ou não a provável prorrogação da concessão da Celg – que se encerra no ano que vem – por mais 30 anos, o que valorizaria as ações da empresa. O governo estadual decidiu recuar em janeiro e aceitou a avaliação que leva em conta apenas 2015, mas ainda assim não há consenso sobre o valor.

A previsão agora é que haja um alinhamento até a próxima semana. A partir daí, está prevista a aprovação da transferência das ações pelos Conselhos de Administração da estatal federal, da Celg D e da CelgPar, com comunicados ao mercado. No dia seguinte, seria assinada a promessa de compra e venda.

Na última sexta-feira, o Diário Oficial da União publicou resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que autoriza a transferência do controle societário da Celg para a Eletrobras, que foi aprovada em reunião do dia 25 de março. Trata-se de uma das etapas burocráticas para a finalização do acordo. Segundo a resolução, a transferência deve ser implementada em até 120 dias.

Em meio ao imbróglio, a Celg foi considerada a pior distribuidora de energia do País em ranking divulgado pela Aneel no dia 26. O POPULAR mostrou no dia 28 de março que 60% dos recursos para o plano de investimentos estabelecido para este ano ainda dependem da concretização do acordo entre o governo goiano e a Eletrobras. O plano prevê aplicação de R$ 450 milhões, mas os recursos garantidos somam apenas R$ 180 milhões.

Anteontem, em evento em Rio Verde, o governador Marconi Perillo (PSDB) disse que o problema da Celg é o “mais nevrálgico e emblemático” do Estado e responsabilizou a Eletrobras, por ela estar no comando da gestão há dois anos e três meses. Disse ainda que tem ido a Brasília “cobrar investimentos” da Eletrobras.

O presidente da Celg, Leonardo Lins de Albuquerque, respondeu que os investimentos só serão possíveis após a aplicação dos recursos do empréstimo de R$ 1,9 bilhão e a efetivação do acordo com a Eletrobras. Já a direção da CelgPar critica a vinculação da transferência das ações à liberação do empréstimo. O presidente Fernando Navarrete tem dito que trata-se de uma operação que não envolve garantias da Eletrobras, apenas de autorização da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), o que dispensaria a vinculação.

Fonte: O Popular