Cientistas políticos analisam união entre PMDB e DEM

21 de junho de 2014

 

Analistas ouvidos pela reportagem do DM reconhecem como “esdrúxula, inusitada e sem precedentes na história política” a aliança entre Ronaldo Caiado e Iris Rezende para as eleições de 2014

 

A aliança firmada entre o DEM e o PMDB para o lançamento da candidatura do deputado federal Ronaldo Caiado a senador e a do ex-governador Iris Rezende a governador é definida por cientistas políticos, ouvidos pela reportagem do Diário da Manhã, como “esdrúxula e inusitada” por ser inédita na política de Goiás e por reunir adversários históricos.

 

Os cientistas políticos apontam também que a presença de Caiado e Iris no mesmo palanque, nas eleições deste ano, vai deixar perplexos os eleitores goianos. Afinal, Ronaldo Caiado tinha maiores ligações com o grupo liderado por Marconi Perillo, com atuação destacada nas campanhas do governador tucano em 1998, 2002 e 2010, nesta última com o DEM indicando o candidato a vice-governador na chapa do PSDB.

 

Na história política de Goiás, os aliados e companheiros de partidos, tanto de Caiado quanto de Iris, desde a República Velha, figuravam em palanques opostos. Depois, o cenário permaneceu o mesmo, com a Revolução de 30, com os seguidores de Totó Caiado e Pedro Ludovico. Mais recentemente, com a configuração do PSD e UDN (mais tarde PMDB e Arena), Caiado e Iris permaneciam como ferrenhos adversários.

 

COMO ELES VEEM

 

Sílvio Costa, professor de Teoria Política e Sociologia da PUC-GO, define a chapa do DEM e PMDB como “Frankenstein”, aquela que é “feia, estranha e esdrúxula”. E argumenta: “A união de Ronaldo Caiado e Iris Rezende é algo inusitado, estranho ao convívio político de Goiás. Certamente, poderá ser malvista pelo eleitor goiano.”

 

Para Sílvio Costa, as consequências desta aliança DEM/PMDB poderá ter resultados surpreendentes, inclusive deixando o ex-governador Iris Rezende fora do segundo turno. “Com essa conturbação política, Iris deixa de ser o referencial da oposição e a sucessão presidencial poderá influenciar em Goiás, levando Marconi Perillo, aliado de Aécio Neves, e Antônio Gomide, opção de Dilma Rousseff, ao segundo turno da sucessão em Goiás.”

 

O professor Luiz Signates, professor de Ciência Política e de Análise de Pesquisas da UFG e de Comunicação Social da PUC-GO, diz que é uma “aliança da conveniência política, baseada nas vontades das cúpulas sem respaldo das bases e da militância”, referindo-se à coligação DEM-PMDB, tendo Ronaldo Caiado e Iris Rezende artífices da união dos partidos. “O eleitor do Caiado não vota em Iris e o eleitor do Iris não vota em Caiado.”

 

Luiz Signates sustenta que Caiado e Iris, ao patrocinarem essa coligação entre o DEM e o PMDB, surpreendem e mergulham numa “faixa de grande” risco, porque se tratam de adversários históricos em Goiás. “No interior de Goiás, os adversários do PMDB, entre eles o DEM de Ronaldo Caiado, chamam os peemedebistas de ‘modeba”, uma expressão pejorativa para desqualificar os seguidores de Iris Rezende.” Na sua opinião, pelo fato histórico, os membros do DEM e do PMDB se “repelem” e “dificilmente caminharão juntos nas eleições deste ano.”

 

Wilson Ferreira da Cunha, professor de Ciência Política e Antropologia da PUC-GO, afirma que a união de Ronaldo Caiado e Iris Rezende, “fundada no oportunismo e na conveniência política”, deixa o eleitorado goiano “assustado e perplexo”, já que DEM e PMDB têm um histórico de antagonismo desde as suas origens, na República Velha. “Certamente, essa aliança entre Caiado e Iris não se dá com base em princípios éticos, propostas de governo e comportamentos republicanos.”

 

Wilson Ferreira da Cunha é de opinião que tanto Caiado quanto Iris perdem essa coligação firmada pelo DEM e PMDB. “Os eleitores de Ronaldo Caiado rejeitam Iris Rezende. É só buscar os arquivos das campanhas passadas para se ver o grande volume de ataques de Caiado a Iris. E os eleitores de Iris também não votam em Caiado, estigmatizado como político reacionário, de direita, defensor de apenas um segmento da sociedade, o setor rural conservador. É uma aliança de perdedores.”

 

Maria Aparecida Skoruspski, professora de Ciência Política da PUC-GO, diz que a aliança entre dois adversários políticos, no caso Ronaldo Caiado e Iris Rezende, não há ganhos para nenhum deles. “Essa aliança do DEM e PMDB não acrescenta nada ao processo eleitoral de Goiás, porque Caiado não soma votos a Iris e vice-versa. Aliás, os eleitores dos dois políticos se rejeitam, se repelem, não se aproximam, até se hostilizam.”

 

Maria Aparecida Skoruspski sustenta que a política de Goiás está polarizada entre o PSDB de Marconi Perillo e o PMDB de Iris Rezende, com vantagem para o governador, vencedor de três eleições seguidas, além de ter ajudado na vitória de um quarto governador. “É nítido que o governador Marconi Perillo é o protagonista da política de Goiás e favorito para vencer as eleições de 2014. Iris, líder da oposição, não consegue apresentar propostas novas que sensibilizem o eleitorado goiano.”

 

Francisco Machado Tavares, professor de Ciência Política da PUC-GO, reconhece que a aliança DEM/PMDB é “esdrúxula, inusitada e que vai causar muita controvérsia na política do Estado.” Para ele, a união de adversários históricos acontecem pelo País afora, mas que não deixam de causar “perplexidade” no eleitorado. “No caso de Caiado e Iris, pode-se observar que haverá mais riscos do que benefícios nesta aliança entre opositores.”

 

Francisco Machado Tavares reconhece que Iris Rezende perde substância político-eleitoral ao promover “coligações” que podem desagradar o seu eleitorado. “O melhor que Iris Rezende deveria fazer, para tornar-se competetitivo nas eleições, seria formar chapa puro-sangue, com escolha de candidatos a vice e senador de seu próprio partido, ao fazer alianças esdrúxulas e inusitadas.”

 

Pedro Célio Borges, professor de Ciência Política da UFG, reconhece, a princípio, a aliança entre adversários históricos, como Ronaldo Caiado e Iris Rezende, causa impacto entre os formadores de opinião pública, mas que, com o desenrolar da campanha eleitoral, há uma acomodação natural. Ele cita o exemplo da aliança do PT com o PMDB de Iris Rezende, em Goiânia, em 2014. “Se tratavam de dois partidos adversários e que deram o primeiro passo para uma aliança. Houve contrariedades, de lado a lado, mas com o andamento da campanha, a situação se acomodou em torno da chapa de Iris Rezende e Paulo Garcia.”

 

Pedro Célio Borges diz que a aliança DEM-PMDB é “esdrúxula” para a elite política e para os formadores de opinião pública, mas que, a exemplo de outras composições, vai ser assimilada pelo eleitorado. “Há exemplos pelo País fora de composições políticas estranhas, esdrúxulas e surpreendentes, mas o cenário político se encarrega de encaixar as coisas. Até as eleições de 5 de outubro, muita coisa vai acontecer no cenário político de Goiás e do País.”

Fonte: Diário da Manhã

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