Mazzaropi no Cine UFG

26 de agosto de 2014

Mostra traz de volta filmes do comediante eternizado como Jeca Tatu

Mazzaropi no Cine UFG (jpeg)

Rute Guedes

Imortalizado como um exemplo do caipira brasileiro, o comediante Amácio Mazzaropi ganha uma mostra com uma parte representativa de sua filmografia no Cine UFG, com entrada franca. A mostra, que prossegue até 19 de setembro, apresenta ao público os principais trabalhos do ator que até hoje é identificado com Jeca Tatu, mas que também era roteirista, diretor e produtor – as múltiplas faces de uma personalidade que levou milhões de espectadores ao cinema em 32 filmes.

O chapéu de palha, a botina velha, o figurino modesto, a postura curvada, a preguiça latente e a suposta ingenuidade – impossível dissociar estas características de Mazzaropi, que eternizou a figura do caipira em vários filmes. Além das próprias observações durante o período em que viajou com seu circo mambembe pelo interior de São Paulo nos anos 30 e 40, o artista inspirou-se diretamente no personagem Jeca Tatu, criado pelo escritor Monteiro Lobato.

Antes de estrelar o filme Jeca Tatu, versões do homem rural do Sudeste já haviam sido devidamente testadas por Mazzaropi, caso de Candinho, de 1953, sobre um caipira que deixa a fazenda do pai adotivo para tentar a vida na cidade grande. A experiência se repete em 1958 com Chofer de Praça, no qual ele interpreta um caipira que se muda para a cidade para ajudar a pagar os estudos do filho, que quer ser médico.

Foi só quando já tinha uma carreira de sucesso que Mazzaropi se apropriou do personagem melancólico criado por Monteiro Lobato em 1914, mas numa outra chave dramática – o humor. No primeiro filme, de 1959, o personagem é situado num conflito de classes, pois terá de abandonar sua terrinha por causa das ameaças de um latifundiário. Apesar do mote inicial, a questão econômica e social do caipira não era desenvolvida nas histórias e o diretor costuma concluir as aventuras do personagem na seara da conciliação. O ator voltaria ao papel em A Tristeza do Jeca, de 1963, O Jeca e a Freira, de 1967, O Jeca Macumbeiro, de 1974, e mais quatro filmes.

O meio rural ou as cidades de interior, embora dominantes, não são os únicos universos de Mazzaropi. Porém, mesmo na cidade grande, seus protagonistas eram geralmente pessoas de baixa escolaridade e pobres, mas honradas como o Jeca e que, como ele, compensavam as adversidades com muita esperteza.

Uma das poucas vezes em que Mazzaropi saiu do seu estereótipo foi em O Puritano da Rua Augusta, de 1965, no qual o artista interpreta um pai de família extremamente conservador e rico que inferniza a vida da família em nome dos bons costumes. Outro exemplo é Corinthiano, de 1966, em que a paixão pelo futebol – uma chance rara de ver Mazzaropi explorar suas raízes como filho de italiano com uma portuguesa. Em Portugal, Minha Saudade, de 1973, o protagonista é Sabino, português de nascimento e radicado no Brasil desde criança, que tem um irmão gêmeo residente em Lisboa.

EMPRESÁRIO

Até hoje o cinema de Mazzaropi é um assombro em termos de popularidade. Jeca Tatu teve 8 milhões de espectadores e, ao lado de Casinha Pequenina, de 1963, foi o campeão de bilheteria no País, marca que só seria ultrapassada com Dona Flor e Seus Dois Maridos, de 1976, com 11 milhões de espectadores.

O que poucos sabem é que, além de um artista de talento, Mazzaropi foi também um grande empresário que atuou em toda a cadeia cinematográfica. Já no começo dos anos 50, ele criou uma produtora e até construiu um estúdio em sua terra natal, Taubaté (SP), com todo o aparato para a produção de seus filmes.

Em seguida, no mesmo esquema, foi montada uma distribuidora, por meio da qual Mazzaropi lidava diretamente com os exibidores do Sudeste. Estes, confiantes devido ao sucesso de cada filme, reservavam o número suficiente de salas para a marca Mazzaropi – algo que até hoje é um problema para boa parte da produção cinematográfica brasileira.

Fonte: O popular

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