Estrago silencioso

Data: 14 de setembro de 2014

Fonte/Veículo: O Popular

 

Pequenos movimentos acontecem sem chamar muito a atenção da sociedade, em especial, dos governos e, agora, dos candidatos seja na disputa nacional ou nas estaduais, e vêm lentamente solapando o futuro de centenas de milhares de jovens e, por consequência, o do País. Em abril de 2013, reportagem de Vandré Abreu no POPULAR revelou que a evasão no primeiro ano dos cursos da UFG chegava a 20%. Esse índice era ainda maior nos cursos de licenciatura.

Em novembro do ano passado, o repórter Galtiery Rodrigues trouxe outra informação relevante: a disputa por vaga nos cursos de licenciatura da mesma UFG havia caído 60% em sete anos. Em 2006, a concorrência média de todos os cursos da área oscilou entre 5,52 e 4,86 candidatos por vaga nos vestibulares de julho e novembro, respectivamente. Em 2013, a média havia caído para 2,08 e 1,96.

Na semana passada outro sinal desse movimento negativo: o Censo da Educação Superior de 2013, divulgado pelo MEC, mostrou redução de 5,7% do total de estudantes se formando nas faculdades. A notícia só não foi pior porque o censo confirmou a tendência de crescimento do número de estudantes matriculados.

A maioria das vagas oferecidas na graduação continua sendo nos cursos de licenciatura, que já não mais atraem os jovens, conforme os dados da UFG. Os cursos tecnológicos estão em expansão, mas bem aquém da necessidade do País. Segundo documento da CNI encaminhado aos candidatos a presidente da República, apenas 5% dos diplomados formam-se em engenharia, número abaixo do porcentual dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 12%, e da Coreia do Sul, 23%.

Se as informações do ensino superior já indicam uma situação gravíssima, imaginem a combinação delas com os dados dos ensinos fundamental e médio. Quase 50% dos estudantes que concluem o ensino fundamental no Brasil não terminam o médio. E dos poucos que passaram por esse funil, apenas 10% chegam ao ensino superior.

E para piorar o que parece impossível de se agravar, os alunos entram na universidade com conhecimento baixíssimo, com deficiências em disciplinas básicas como português e matemática que não podem ser corrigidas na faculdade. Vale lembrar que a maior nota no ensino médio do Brasil, registrada em Goiás, foi de apenas 3,8, bem longe da nota 6 dos países desenvolvidos.

Assim é fácil prever o futuro: poucos jovens e mal formados chegarão às universidades para cursos que o mercado não necessita. E tudo isso passa ao largo das políticas governamentais, das universitárias e, agora, das propagandas eleitorais dos candidatos que preferem falar de perfumarias do que se comprometerem com políticas públicas eficientes para conter esse tsunami que corrói o futuro dos jovens e o do Brasil.

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