Bomba de chorume na água

Data: 21 de setembro de 2014

Fonte/Veículo: O Popular/Cidades

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Meio Ambiente

Estudo preliminar aponta que, 105 de 191 lixões de cidades goianas estão próximos ou sobre bacias de captação de água para consumo

Galtiery Rodrigues
Diomício Gomes
Diomício Gomes
Homem separa material em lixão de Terezópolis

A alguns metros do lençol freático e dos rios que preservam a água do abastecimento público, está o chorume dos inúmeros lixões mantidos em cidades do interior de Goiás. Mais concentrado e poluente que o esgoto, o líquido de matéria orgânica e os resíduos dispostos irregularmente e sem nenhum controle colocam em risco não só o meio ambiente, mas, em razão da localização, pode impactar negativamente na qualidade da água que é consumida por milhares de goianos.

Versão preliminar do Plano Estadual de Resíduos Sólidos (PERS), desenvolvido por professores especialistas da Universidade Federal de Goiás (UFG), mostra que de 191 cidades do Estado que declararam possuir lixões, cerca de 105 mantêm esses locais sobre bacias de captação de água ou bem próximo a elas. Ainda não se comprovou a contaminação em nenhum desses locais, mas a possibilidade, apesar de depender de uma série de fatores, não pode ser ignorada, segundo técnicos.

O engenheiro cartógrafo e doutor em Ciências Ambientais Nilson Clementino Ferreira integra a equipe de professores contratada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) para desenvolver o PERS. Foi ele o responsável por fazer os mapas do relatório que cruzam os dados de localização dos lixões com o perímetro das bacias de captação. Para Nilson, a ameaça é séria e os mananciais que fornecem água para o abastecimento público podem estar sendo comprometidos.

A chegada do chorume ao leito do rio é algo improvável para alguns, se levar em consideração que, para isso, é preciso infiltrar no solo até chegar ao lençol freático ou escoar superficialmente, sendo levado pela água da chuva. Vale ressaltar, no entanto, que existem lixões em algumas cidades de Goiás que funcionam há mais de duas décadas. À medida que o tempo passa, a tendência é piorar, com o aumento da produção de resíduos e das chances de contaminação do solo e da faixa de água subterrânea.

“É provável que em muitos desses locais, pelos menos o solo já tenha sido contaminado, assim como é possível que alguns lençóis freáticos também. Não dá para garantir que isso tenha gerado riscos para a população. Tem de se investigar melhor”, pontua o engenheiro civil e vice-coordenador da equipe responsável pela elaboração do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, Eraldo Henrique de Carvalho. Ele lembra que o trabalho feito nas estações de tratamento consegue reverter a contaminação da água.

Em cenário ideal, o certo seria manter as superfícies das bacias de captação intactas, sem atividades antrópicas e muito menos com a implantação de lixões, totalmente ilegais e sem regras de funcionamento. No caso de aterros sanitários, a legislação estipula distâncias mínimas do leito dos mananciais e dos pontos exatos de captação da água, o que torna remota a possibilidade de contato.

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