Desafios à pós-graduação em Goiás

Data: 09/10/2014

Veículo: O Popular

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Os cursos de mestrado e doutorado têm o objetivo principal de formar recursos humanos altamente qualificados para atuar no ensino, na pesquisa científica e no desenvolvimento tecnológico. Esses cursos, agrupados em “programas” de pós-graduação, são continuamente avaliados pela Coordenação para Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) do MEC, que atribui a esses programas conceitos variando de 3 a 7 (sendo os conceitos 6 e 7 reservados para programas de excelência, com produção científica consistente e de elevado nível de internacionalização). Além da avaliação, a Capes apoia financeiramente os programas, concedendo bolsas de estudos, viabilizando intercâmbios nacionais e internacionais e permitindo a aquisição de equipamentos e a manutenção de laboratórios.

Para alcançar patamares de excelência, os programas de pós-graduação no Brasil devem se adequar às diretrizes de suas áreas de conhecimento e às políticas nacionais de pesquisa e inovação. No Plano Nacional de Pós-Graduação 2011-2020 da Capes, há metas ambiciosas de formação de um elevado número de mestres e doutores e diminuição de assimetrias regionais pela ampliação do número de programas nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. É preciso investir em internacionalização, em pesquisas interdisciplinares e em ações interinstitucionais. As práticas acadêmicas devem se aproximar das aplicações tecnológicas e do mercado de trabalho, e deve haver mais envolvimento da pós-graduação na resolução de problemas da educação básica. Em resumo, em um mundo globalizado e com problemas cada vez mais complexos, é preciso unir esforços entre pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento para gerar soluções criativas e inovadoras para esses problemas, somando esforços de grupos de pesquisa e instituições para avançar no conhecimento e garantir bem-estar social e desenvolvimento sustentável.

Apesar do crescimento expressivo nos últimos anos, em Goiás ainda temos um número relativamente pequeno de programas de pós-graduação. São 91 programas, incluindo apenas 29 doutorados, ofertados por oito instituições. Em comparação, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo possuem, respectivamente, 384, 445 e 853 programas. Além do número, é preciso destacar que há poucos programas consolidados, todos sediados em Goiânia. Apenas dois deles, nas áreas de ecologia e de geografia, são considerados de excelência (com conceito 6, na avaliação da Capes). Sem dúvida, é preciso melhorar esses números.

Para isso, é preciso avançar em diversas frentes. Ainda há problemas causados pela falta de recursos, pois o financiamento da Capes não atende às necessidades crescentes em função da grande expansão das universidades em todo o Brasil. Os pesquisadores de Goiás têm conseguido, pelo aumento da sua capacidade de trabalho e qualificação, captar recursos volumosos para pesquisa. Nesse contexto, é importante destacar o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) aos pesquisadores de Goiás nos últimos anos. Contudo, há outros aspectos igualmente importantes envolvendo principalmente cooperação científica e valorização profissional. É preciso transpor muitas barreiras dentro e entre instituições e alinhar as políticas institucionais a fim de permitir, de forma mais efetiva, maior integração entre docentes e discentes, desenvolvendo projetos em colaboração e trocando experiências. Isso é importante para diminuir desigualdades e levar a pesquisa e a pós-graduação para outras cidades do Estado. É preciso também que as instituições valorizem seus pesquisadores e reconheçam que eles, no mesmo momento em que desenvolvem suas atividades usuais de ensino na graduação, orientação de estudantes e outras atividades acadêmicas e administrativas, devem ter tempo e estrutura mínima para seus projetos (e inclusive realizar, na grande maioria dos casos, até a gestão financeira deles). Certamente são grandes desafios, mas é preciso enfrentá-los para garantir o contínuo desenvolvimento científico e tecnológico no Estado de Goiás.

 

José Alexandre Felizola Diniz Filho é doutor em Ciências Biológicas, pesquisador 1A do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências, professor titular e pró-reitor de Pós-Graduação da UFG. Com: Fabiana de Souza Fredrigo, doutora em História, professora associada e pró-reitora adjunta de Pós-Graduação da UFG

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