O casal Macloys Aquino e Salma Jô à frente dos demais músicos da Carne Doce

Uma imensidão de cenários capazes de criar imagens antagônicas para quem está ouvindo, entre a cidade e o sertão, o ativo e o passivo, o doce e o violento, o enérgico e o sutil. Nesta atmosfera rítmica, a banda Carne Doce lança hoje, juntamente com a Boogarins, o seu primeiro disco, que leva o nome do grupo, no Centro Cultural UFG.

O trabalho, por enquanto disponível apenas na internet (youtube.com/carnedoce), é fruto do delicado e íntimo diálogo entre o casal Salma Jô e Macloys Aquino. João Victor Santana (guitarra e sintetizador), Ricardo Machado (bateria) e Aderson Maia (baixo) completam a banda que acompanha os dois. O grupo gravou o disco no Estúdio Coruja, da banda Hellbenders, e reitera a parceria criada pelos músicos desde o lançamento do primeiro EP, Dos Namorados, de 2013.

Já considerada pela imprensa nacional como uma das grandes revelações deste ano, a Carne Doce nasceu do relacionamento entre Salma e Macloys, que se conheceram em 2009, no aniversário da loja Hocus Pocus, no Centro de Goiânia. “Não poderia ser mais underground e alternativo”, brinca Salma, que, depois de três semanas, já estava morando com Macloys, no Setor Jaó.

Enquanto Macloys dividia seu tempo entre o jornalismo (ele já foi repórter do POPULAR) e a banda Mersault, Salma cantava no grupo The Galo Power. Com o tempo, as bandas acabaram se desmembrando, e o casal começou a compor juntos tão naturalmente que nem mesmo os dois sabem dizer ao certo como a Carne Doce foi formada. O fato é que, quando viram, já tinham um repertório com algumas boas canções e não sabiam o que fazer com elas. Surgiu então o EP Dos Namorados.

De acordo com Salma, o disco lançado hoje foi pensado desde o final do ano passado, depois do lançamento do EP. “Sabemos a importância de um disco, como um material para ser apresentado para o público. Pensamos este primeiro trabalho não como o final de um trabalho realizado, como muitas bandas fazem por aí. Pensamos o disco como o ponto de partida para promover a Carne Doce, seja através de shows, seja pela internet.”

Desde a última quarta-feira que a Carne Doce já vem divulgando pela rede as dez faixas que compõem o disco. O destaque fica por conta das canções Sertão Urbano, Amigo dos Bichos, Passivo e Bezin, esta última gravada em parceria com a banda Boogarins. Segundo Salma, os componentes das duas bandas, além de amigos, sempre tocam juntos quando podem. “Sempre nos encontramos muito com a Boogarins. Os meninos frequentam a nossa casa, passamos o final do ano juntos. Temos uma relação de afeto.”

Sentimentos

Na mesma linha do EP, o disco mantém o mesmo formato sonoro que a Carne Doce faz: a antipatia pelo “bonitinho”, “fofinho”, e a busca pela beleza da própria forma musical. “Falamos para o mundo sobre os sentimentos, expomos as feridas, que não são apenas feridas, mas contam histórias, falam sobre pessoas”, reitera Salma.

O disco da Carne Doce deve ganhar um lançamento em CD e vinil no começo do ano que vem. Enquanto isso, a banda divulga as suas canções em shows. “As canções foram compostas por todos nós, que, de fato, tentamos moldar um pouco do que é a Carne Doce. Para a gravação do disco, por exemplo, foram três semanas. Estamos felizes com o resultado e com o que a crítica tem dito sobre o trabalho”, afirma Selma.

Pensando o disco como um ponto de partida, a Carne Doce, que ainda é totalmente independente, sem vínculos com nenhuma produtora goiana – apesar de a banda ter sido convidada para integrar o casting da Fósforo Cultural e da Monstros Discos – já tem uma lista recheada de shows, como a apresentação no GO Music Festival, ou ainda o UFSCtock, maior festival de música independente de Santa Catarina.

Show: Boogarins e Carne Doce

Local: Centro Cultural UFG. Praça Universitária, Setor Universitário

Data: Hoje, às 21h

Ingressos: R$ 20 (inteira, antecipados)

Boogarins retorna de turnê

18 de outubro de 2014 (sábado)

Boogarins: banda goiana toca na cidade, ao lado da Carne Doce, depois de turnê por vários países

Se a Boogarins fosse um filme, com certeza seria uma boa produção em road movie, daquelas com diversas paisagens naturais e quatro garotos conduzindo um trailer. Dos desertos do Texas aos Alpes da Suíça, passando pelo Reino Unido, Holanda, Espanha e Argentina. 2014 está sendo mais do que intenso para a banda Boogarins, que retorna a Goiânia e realiza um show especial hoje, no Centro Cultural UFG, juntamente com a Carne Doce, que lança o primeiro disco.

Boogarins é daquelas bandas que surpreendem. Na contramão das inúmeras duplas sertanejas que nascem todos os anos em Goiás e dos grupos de stoner rock que tentam emplacar algum hit, a Boogarins é dona de uma interessante psicodelia pop. Não é por menos que o grupo, formado por Fernando Almeida, Benke Ferraz, Raphael Vaz e Ynaiã Benthroldo (ex-Macaco Bong), assim que fez os primeiros shows, no ano passado, assinou contrato com o selo nova-iorquino Other Music Recording.

Que a banda é um sucesso por onde passa todo mundo já sabe. A novidade é o show da Boogarins hoje, que vai apresentar diversas músicas, inclusive uma participação na faixa Benzin, da Carne Doce, juntamente com as canções de As Plantas que Curam, álbum de estreia do grupo.

Com referências aos tropicalistas do final década de 1960, a imprensa gringa ainda está disposta a promover a Boogarins ao status de “fenômeno brasileiro da nova tropicália”, como já foi mencionada pela MTV americana. O fato é que o grupo promove um som psicodélico em sintonia com outras bandas já consagradas em todo o mundo, a exemplo da Tame Impala, da Austrália, ou ainda a Temples, da Inglaterra.

O sucesso é tanto que, no mês passado, a Boogarins abriu o show de ninguém menos que a banda escocesa Franz Ferdinand, em São Paulo. Depois da apresentação de hoje, o grupo tem agenda lotada até o final do ano. Eles ainda fazem uma turnê em todo o Brasil, em cidades como Belo Horizonte, Recife, Natal, Fortaleza, Porto Alegre, Caxias do Sul, além de tocar em Buenos Aires, na Argentina, e Santiago, no Chile.