Vítimas não foram a áreas de risco

DATA: 22/10/2014
REPÓRTER: MALU LONGO
O POPULAR

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Malária

Vítimas não foram a áreas de risco

Agentes de saúde coletaram mosquitos em parque para saber se há contaminação por protozoário

Malu Longo22 de outubro de 2014 (quarta-feira)

 

 

Amostras do mosquito Anopheles, transmissor da malária, foram coletadas no início da noite de segunda-feira em um raio de dois quilômetros no Jardim Goiás, em Goiânia, por equipes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Três casos da doença foram confirmados em pessoas que moram nas proximidades do Parque Flamboyant, na Região Sul da capital, não se conhecem e não viajaram para áreas de risco nos últimos meses. O órgão municipal ainda aguarda resultados das análises para saber se as amostras do mosquito estão infectadas ou não com o parasita Plasmodium vivax, responsável por 85% dos casos de malária no Brasil. Exames apontaram a presença do parasita no sangue dos pacientes de Goiânia.

Secretário de Saúde de Goiânia, Fernando Machado afirmou ao POPULAR que a capital não é área endêmica de malária, entretanto, por ser referência em Saúde e polo de construção civil atrai pacientes e trabalhadores de regiões suscetíveis à transmissão da doença, o parasita por ter “viajado” através desse movimento migratório.

Doutor em genética de malária, o professor e pesquisador do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Iptsp) da Universidade Federal de Goiás (UFG) Pedro Cravo confirma a informação do secretário. “O parasita encontrado no sangue dos pacientes de Goiânia, o Plasmodium vivax pode se alojar no fígado e ficar dormente por anos, sem manifestação dos sintomas. Mais tarde eles podem ou não surgir”, explica o pesquisador. É a chamada malária caladinha. Mesmo sem sintomas, se a pessoa infectada for picada pelo vetor pode transmitir a doença.

Fernando Machado ressalta que o Anopheles é frequentemente encontrado em Goiânia, mas há anos não existe uma cadeia de transmissão de malária na capital. “A doença provocada pelo parasita Plasmodium vivax tem baixa mortalidade, mas preocupa porque o diagnóstico pode ser confundido com dengue, cujos sintomas em muitos momentos são parecidos”. A médica infectologista Christiane Kobal, que acompanha Rafael Henrique Almeida, de 24 anos, internado numa unidade de terapia intensiva de um hospital particular, ressalta que a demora do diagnóstico pode agravar os casos de malária. O jovem, que procurou o pronto-socorro do hospital no sábado com sintomas da doença, mais tarde confirmada, está entubado e com respiração mecânica. Ontem, mais duas pessoas que residem nas imediações do Parque Flamboyant, procuraram o mesmo hospital com sintomas semelhantes e foram encaminhadas para exames.

Fernando Machado explica que, embora a identificação da presença do protozoário que causa malária ainda não tenha sido feita nas amostras de mosquitos coletadas, é importante que as notificações à SMS sejam feitas com agilidade para que a pasta possa atuar no controle da transmissão da doença. Com a colaboração de servidores da Agência Municipal do Meio Ambiente, equipes da SMS continuam trabalhando na região do Parque Flamboyant para combater possíveis criatórios de anofelinos.

Paciente se disse surpresa com diagnóstico

Janda Nayara22 de outubro de 2014 (quarta-feira)

Renato Conde

 

  Maria de Fátima disse que inicialmente nenhum médico cogitou a possibilidade de sintomas serem de malária

Maria de Fátima disse que inicialmente nenhum médico cogitou a possibilidade de sintomas serem de malária

 



Dores fortes no corpo, fraqueza, falta de apetite, febre alta e calafrios que a faziam procurar um cobertor, mesmo com a temperatura em Goiânia aproximando dos 40° centígrados. Esses foram os sintomas relatados pela aposentada Maria de Fátima Ferreira, de 54 anos, o primeiro dos três casos confirmados de malária em Goiânia.

Facilmente confundidos com os sintomas da dengue, ela chegou a receber hidratação e medicação para dor em um hospital particular, onde apenas no quarto hemograma foi detectada a infecção pelo protozoário. “Fiquei e continuo muito abatida. Como nunca tive dengue, achava que os sintomas eram do vírus. Jamais imaginei que pudesse ser malária, já que a única vez que viajei este ano foi em julho, para Caldas Novas”, afirmou.

Maria de Fátima conta que o resultado positivo surpreendeu até mesmo os médicos dos três hospitais pelo qual passou, dois particulares e o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), no dia 9 de outubro. “Ninguém cogitou esta hipótese e ficaram ainda mais assustados quando eu disse que não viajei para regiões endêmicas”, disse.

A aposentada foi atendida inicialmente no Hospital Lúcio Rebelo, o mesmo por onde passou outro paciente diagnosticado com a doença. Como a infectologista do local estava viajando, ela foi encaminhada para o HDT, onde, de acordo com a assessoria de imprensa, foi medicada e, por não estar em estado grave, recebeu alta para continuar o tratamento em casa.

No outro dia, Maria de Fátima precisou ser internada na unidade de terapia intensiva (UTI) de outro hospital particular para continuar o tratamento. “Foram sete dias de medicação, dos quais três eu passei na UTI e quatro no apartamento. São remédios muito fortes e que provocam diversas reações no organismo. Como a doença ataca o fígado, também vomitamos muito”, conta.

Mesmo tendo tomado a medicação, a aposentada continua sofrendo com os sintomas da doença. “Estou anêmica, coisa que nunca fui. O médico chegou a cogitar transfusão de sangue, mas antes, vai tentar reverter a situação com medicação. Ontem, de tanto vomitar, fui parar no médico novamente”, contou.

Ela diz que está com medo de que tenha contraído a doença nas proximidades do Parque Flamboyant, região da qual todos as vítimas são moradoras. “Fico preocupada porque minha família mora aqui em frente ao parque. Eu descia todos os dias para caminhar no fim da tarde por volta das 19 horas, horários que coincidem com o hábito do mosquito transmissor”, disse.

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Transmissor da doença está presente em todo o País

22 de outubro de 2014 (quarta-feira)

Conhecido também como mosquito prego, o Anopheles, transmissor do protozoário que causa a malária, é encontrado em todo o Brasil, independentemente de a região ser ou não área de risco para a doença. Para colocar seus ovos, as fêmeas têm predileção por espaços hídricos, sejam eles lagos, remansos de rios e córregos, represas, valas de irrigação, manguezais, pântanos e até mesmo plantas da família das bromélias.

Machos e fêmeas do Anopheles alimentam-se de néctar e outras fontes de açúcar, mas elas precisam de sangue para o desenvolvimento dos ovos. A preferência das fêmeas é por sangue humano, o que a torna um importante e eficiente vetor da malária. Elas costumam picar ao amanhecer e ao anoitecer.



Fonte: O Popular

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