O vilão da praticidade

Data: 02/11/2014

Veículo: Diário da Manhã

 

 

 Armazenamento de alimentos em vasilhas plásticas pode, a longo prazo, trazer prejuízos à saúde



Até pouco tempo os perigos presentes no plástico eram desconhecidos ou ignorados por boa parte da sociedade. Mas estudos evidenciam que em contato com os alimentos alguns recipientes e embalagens plásticas liberam substâncias tóxicas, como o Bisfenol-A e a dioxina. Responsáveis por causar infertilidade, alterações no tamanho da próstata e ovários, puberdade precoce – no sexo feminino – doenças cardiovasculares, obesidade, diabete tipo 2, e até mesmo o câncer.

Para o professor da Universidade Federal (UFG), doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em embalagens de produtos alimentares, Robson Maia Geraldine, o plástico está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas. “Boa parte dos recipientes e embalagens que outrora foram confeccionados com materiais de outra natureza, como o vidro ou o metal, são hoje produzidos com algum tipo de polímero plástico”, declara.

Foto: Ilustrativa/ReproduçãoFoto: Ilustrativa/Reprodução

O professor explica que o uso inadequado dos recipientes plásticos, quando se desconsidera as características do polímero (usados na produção de plástico, silicone, borracha sintética, etc.) em uso, pode permitir a migração de componentes tóxicos (aditivos) para os alimentos e, consequentemente, afetar a saúde do consumidor. “Assim, levar ao formo micro-ondas um alimento em vasilhame plástico não preparado para altas temperaturas é, sem dúvida nenhuma, um grande risco à saúde”, alerta.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), por meio de sua coordenação de prevenção e vigilância do câncer, o aquecimento de comida no forno micro-ondas feito em recipientes de plástico libera uma substância chamada dioxina, que pode causar câncer. O estudo confirma não só a toxicidade da substância, mas também admite seu potencial carcinogênico.

Com base em informações do Inca a dioxina é um subproduto gerado no processo de fabricação do plástico e que, a princípio, nem a indústria teria como medir a qualidade da matéria-prima quanto a essa contaminação. Pelo que se sabe, no Brasil, apenas o laboratório da Petrobras tem aparato técnico para detectar essa contaminação. “Existem diversos tipos de polímeros plásticos, com características e propriedades distintas, por exemplo, com maior ou menor resistência a altas temperaturas”, descreve Robson Maia.

A dioxina pode estar presente em qualquer plástico, desde brinquedos a garrafas pet. Mas, em condições normais de temperatura, observa o estudo, o composto não é liberado. Ainda de acordo com o instituto: “a dioxina se acumula no tecido gorduroso de animais e todos os estudos realizados com eles têm revelado o potencial cancerígeno do composto, mesmo em baixas doses”.

A bisfenol-A

O bisfenol-A é um produto químico usado na fabricação de plásticos e no revestimento interno de quase todas as latas de alimentos e bebidas, inclusive em latas, de fórmula para bebês e mamadeiras. E acima de tudo, é uma substância tóxica perigosa para nossa saúde. Agora você pode se perguntar: por que então o bisfenol-A sendo tão nocivo a nossa saúde ainda é usado em recipientes plásticos, latas e mamadeiras?

Para responder, o professor da Universidade Federal (UFG), doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Robson Maia pontua que essa é uma das substâncias tóxicas que pode estar presente em alguns recipientes plásticos. “O Bisfenol-A é a base para a produção do policarbonato (mamadeiras) e de resinas epóxi (vernizes de embalagens). Ela confere as embalagens ou vernizes características particulares e importantes, como resistência a impacto e impermeabilidade.”

Porém, ele acrescenta: “sua toxicidade elevada faz com que alternativas devam ser encontradas para sua substituição na produção de recipientes ou de embalagem para alimentos”, reconhece o especialista. 

O Bistenol-A ou BPA pode ser transmitido para criança através do consumo de alimentos ou bebidas acondicionadas em plástico, como no caso das mamadeiras. A situação pode se agravar ainda mais com o aquecimento da mamadeira em micro-ondas que leva a um maior desprendimento da substância química. Estudos comprovam que a bisfenol-A passa até pela placenta contaminando o feto. O que ocorre sempre que a gestante ingere um produto que esteve em contato com o químico.

Sobre o assunto Robson observa que, “pesquisas sugerem que o Bisfenol A pode afetar a fertilidade, causar câncer, diabetes, provocar doenças cardíacas, etc. Considera-se que esta substância interfere no sistema endócrino, causando alterações hormonais que desencadeiam uma série de problemas à saúde”, avalia.

Precauções

O especialista, Robson Maia chama a atenção para alguns cuidados que devemos ter para se evitar problemas relacionados à contaminação por substâncias tóxicas provenientes de plásticos. “Devemos estar sempre atentos às especificações técnicas destes materiais, evitando principalmente o aquecimento de alimentos em embalagens ou recipientes plásticos que não estejam preparados para suportar altas temperaturas”, adverti. 

Visto que não há como ter segurança quanto à presença de substâncias tóxicas nos plásticos, vale o princípio da precaução. Ou seja, o recomendável é que nunca se aqueça alimentos no micro-ondas em recipientes plásticos. O recomendável é transferir a comida para vasilhas de vidro (temperado) que suporte o calor. 

Mudança

A auxiliar-administrativa, Ida Maria de Souza Cavalcante, 47 anos, sempre usa recipientes plásticos para armazenar alimentos, na geladeira, tanto para congelar quanto para conservação. “Sempre que compro carne uso as vasilhas de plástico para dividir esses alimentos em pequenas porções, assim como as sobras de comida”, descreve.

Outro hábito adotado pela família é o aquecimento destes alimentos no forno micro-ondas. Ela descreve que devido a correria do dia a dia a opção mais viável e esquentar os alimentos no micro-ondas. “Todos os dias aqueço meu almoço no forno micro-ondas”, declara.

Ida alerta que seu comportamento assim como de tantas outras pessoas se resumem com as facilidades proporcionadas com a tecnologia e a desinformação do consumidor. “Não tinha conhecimento dos perigos que o plástico pode oferecer a nossa saúde. A partir de agora que tenho conhecimento a minha intenção é mudar”, avalia.

A auxiliar administrativa é avó de duas crianças e afirma que está mais surpresa ainda com os perigos que o plástico pode causar para as grávidas e crianças. “Lá em casa a gente sempre prepara o mama dos meus netos no micro-ondas, não sabia que a mamadeira solta essa substância tóxica”, alega.

Ida que recentemente descobriu que será avó novamente, diz que alertará a filha sobre os perigos do plástico. “Vou orientá-los, sempre que possível, a prepararem ou aquecerem os alimentos em recipientes adequados, evitando assim maiores prejuízos para nossa saúde”, conclui.

"Pesquisas sugerem que a Bisfenol A pode afetar a fertilidade, causar câncer, diabetes, provocar doenças cardíacas, etc. Considera-se que esta substância interfere no sistema endócrino, causando alterações hormonais que desencadeiam uma série de problemas à saúde".

Robson Maia Geraldine,doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos

Saiba Mais

Grupo mais vulnerável aos danos do Bisfenol-A

Gestantes: o bisfenol-A se concentra cinco vezes mais no líquido amniótico da grávida. A substância pode prejudicar o desenvolvimento sexual dos meninos, provocando malformação de sua genitália. 

Há a hipótese de que o bisfenol-A esteja por trás de hiperatividade em meninas, especialmente quando a mãe é exposta a substância no primeiro trimestre de gravidez. 

Mulheres que pretendem ter filhos: o bisfenol-A por meio de sua ação estrogênica favorece o desenvolvimento de endometriose, crescimento anormal do tecido que reveste o útero, o endométrio.

Pessoas com histórico familiar de problemas de tireoide: Devem redobrar a precaução. Isto porque o bisfenol-A tem uma estrutura parecida com a da tiroxina, o hormônio tireoidiano, uma vez consumido, pode desregular a glândula.

Mulheres com parentes de primeiro grau que tiveram câncer de mama: Por agir como estrogênio, desconfia-se de que o composto esteja envolvido no tumor mamário.

Crianças: ao colocar objetos na boca, principalmente bichinhos e bonecas de plástico, alguns desses brinquedos podem esconder o bisfenol-A adotado por alguns fabricantes porque ele torna o material mais resistente a mordidas.

Alerta: Compre apenas brinquedos atestados pelo Inmetro que, pelo menos, garante que o material foi fabricado dentro dos padrões de qualidade determinados pela legislação do país.

Como prevenir

Ajude a resguardar você e sua família da exposição ao Bisfenol-A adotando os seguintes passos:

  • Ao adquirir produtos enlatados, confira se estão íntegros, sem amassados, que facilitam a liberação da substância. 

  • Pelo mesmo motivo, descarte utensílios de plástico lascados ou arranhados. Evite esfregá-los excessivamente com bucha e detergente ou colocá-los na máquina de lavar louças. 

  • Tente substituir pratos, copos e outros utensílios de plástico. Dê preferência ao vidro, à porcelana e ao aço inoxidável para armazenar bebidas e alimentos. 

  • Não esquente embalagens plásticas no micro-ondas, exceto se forem fabricadas especificamente para esse tipo de forno. 

  • Não coloque itens comestíveis quentes em canecas ou recipientes plásticos. 

  • Preste atenção no símbolo de reciclagem. Essa informação costuma ser estampada no fundo da embalagem. Associada a ele, há sempre uma numeração. Procure evitar as que sejam classificadas como 3 ou 7, que podem apresentar maior concentração de bisfenol-A. 

  • Confie somente nos produtos certificados pelo Inmetro. 

  • Não deixe os líquidos que for ingerir em contato com o plástico por longos períodos. 

  • Atenção especial às mamadeiras: evite as de policarbonato. Opte pelas de polietileno.



 

Fonte: Diário da Manhã

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