Exame ganha outras utilidades

Data: 07 de novembro de 2014.

Veículo: O Popular

Quase 60% dos que vão fazer a prova já concluíram o ensino médio e têm motivações diferentes

Quase 60% dos inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) já concluíram o ensino médio. Criado há 16 anos para avaliar o nível dos estudantes que concluíam o ensino médio nas escolas do País, o Enem agora tem outras utilidades, já que virou requisito para garantir uma vaga em diversas instituições públicas de ensino superior do Brasil, como a Universidade Federal de Goiás (UFG), que aderiu integralmente ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu). É utilizado ainda para a obtenção de bolsas, até mesmo integrais, em faculdades particulares através do Programa Nacional do Ensino Médio (Prouni).

Segundo professores de cursos preparatórios consultados pelo POPULAR, entre os 4,9 milhões de inscritos que se enquadram neste perfil, as motivações são diferentes. “Há aqueles que ainda não conseguiram passar em um vestibular e já tentam pela segunda ou terceira vez; pessoas mais velhas; formados e no mercado de trabalho, mas que desejam outro curso, entre outros”, explica o coordenador do pré-vestibular do colégio Millenium Classe, Heitor Godinho.

Depois de cursar por três anos Engenharia Civil em uma universidade pública, Vittor Hugo Espíndola, de 20 anos, decidiu abandonar o curso e buscar a profissão de seus sonhos através do Enem. Ele vai tentar uma vaga para Engenharia de Petróleo. “Resolvi me preparar exclusivamente para o Enem porque as universidades que oferecem o curso aderiram integralmente ao Sisu ou utilizam a nota da prova na primeira fase”, conta.

Ter ficado um tempo distante das matérias comuns aos estudantes do ensino médio é uma das dificuldades enfrentadas por este público, o que para os professores exige ainda mais dedicação. “O retorno à preparação para o exame não é fácil, já que a gente acaba caindo no esquecimento e perdendo o ritmo para estudar tantos conteúdos diversos”, diz Espíndola.

Ele escolheu se matricular em um curso preparatório específico para o exame e além das quase seis horas que passa em sala de aula, ainda estuda cerca de sete horas em casa. “Adotei a leitura e releitura maciça para relembrar e fixar os conteúdos. Acho que estou preparado”, avalia.

Para o diretor de ensino do Curso Prepara Enem, Gilberto Augusto Nogueira, as pessoas que estão concluindo o ensino médio estão em ritmo de estudo mais acelerado do que aquelas que estão sem estudar há algum tempo. “Fazemos um cronograma diferenciado para estes alunos. Eles precisam começar com menos horas de estudo e ir aumentando de forma gradual para não ter dor de cabeça, cansaço e outros efeitos colaterais que podem desestimular e até mesmo fazer com que desistam do processo.”

Para Godinho, os candidatos mais velhos podem até se favorecer de características pessoais, como maior maturidade, leitura e visão de cotidiano. “Mas ao mesmo tempo, precisam se adaptar e se preparar para a nova forma de avaliação que é o Enem, que também exige fórmulas, raciocínio lógico, entre outros.”

Comentários à redação

Escrever corretamente, não fugir do tema, interpretar as informações da coletânea, argumentar, apresentar soluções, ter coesão e coerência. São essas as competências básicas exigidas para a construção de uma boa redação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o que pode garantir ao candidato uma nota maior do que a daquele que tem excelente desempenho nas provas objetiva. Professores especialistas comentaram para O POPULAR uma das redações que receberam nota máxima no exame. Veja:

Rafaella Eleutério - Professora do Grupo Prepara Enem

A priori, observa-se o cuidado com a linguagem, no que tange à competência 1 (demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita) e à 4 (demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação). A candidata não cometeu nenhuma inadequação no uso da linguagem padrão formal, exceto ao grafar ONGs com o apostrofo (ONG’s) o que fere a grafia dessa sigla. Os elementos coesivos são muito bem utilizados para encadear a sequência de palavras, frases e parágrafos, e a retomada de termos se dá sem a repetição desnecessária de expressões.

Quanto à abordagem temática, houve pleno entendimento da proposta: buscaram-se avaliar causas e consequências da entrada de imigrantes no Brasil atualmente, e não a saída de brasileiros de nosso País, o que configuraria a fuga ao tema. As partes constitutivas da dissertação argumentativa foram bem marcadas (introdução, desenvolvimento, conclusão) e a tese (crítica principal do texto), justificada a contento pela aluna.

A nota máxima na elaboração de uma proposta de intervenção se justifica pelo fato de a autora ter percebido a necessidade de inserção do imigrante no Brasil, já que ela própria afirma na tese a urgência de sua adaptação à nova realidade. Gabriela delineia exatamente o que deve ser feito, por quem especificamente e como, para evitar os problemas mencionados ao longo da redação, mostrando que mais de uma atitude é necessária para fazer com que a imigração torne-se viável e não um fardo a nossa sociedade. O discurso de respeito e assistência corrobora com êxito o grande marco desta prova: o de não ferir os direitos humanos, pois a sociedade carece de tolerância.



Péricles Polegatto - Professor Sistema COC de Ensino

A redação, apesar de pequenos erros de ortografia (latinoamericano, mão-de-obra, ONG’s), conseguiu nota máxima por ser um texto centrado no tema, sem desvios desnecessários, sem tom apelativo, mantendo a clareza, a argumentação consistente, bem defendida com exemplos reais. Um texto bem estruturado, com começo meio e fim, conforme se espera dos textos técnicos e com funções comunicativas, apresentando, inclusive, sugestões às autoridades públicas com relação à abordagem da questão da imigração em nosso País.



Comentários Inep

O texto demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal e não apresenta problemas linguísticos, a não ser a falta de acento em “saúde”, sem reincidência em inadequações de grafia. Demonstra também que a proposta de redação foi compreendida e que o tema foi desenvolvido dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.

O texto é objetivo e impessoal. A redação organiza-se em quatro parágrafos bem construídos. Na introdução, o texto alude ao fato de muitos brasileiros terem emigrado na década de 1980 e afirma que agora houve uma inversão de fluxo. As ideias são desenvolvidas esclarecendo que o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, houve um aquecimento econômico e a classe C tem tido acesso a maior nível de consumo. Essa imagem positiva atrai imigrantes, mas favorece a exploração da mão de obra.

O texto apresenta como conclusão uma proposta ampla e abrangente de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos: intervenção governamental e fiscalização sobre empresas que empregam imigrantes. Propõe também campanhas para fomentar o respeito aos que vêm de fora e sugere a assistência aos novos cidadãos, por meio de políticas públicas que assegurem acesso à saúde e à educação. As propostas são coerentes com as ideias desenvolvidas no texto.

Fonte: O Popular

Categorias: clipping