Ambiente em risco na região

Data: 10/11/2014

Veículo: O Popular

Margens com vegetação devastada, assoreamento e poluição podem comprometer fornecimento de água



 

 

FOTO_H_4-B0_WEB

Vertedouro da Barragem do Ribeirão João Leite: projeção da Saneago é de garantia do fornecimento de água para a região até 2045

 

 

Segundo projeções da Saneamento de Goiás S.A. (Saneago), o Sistema de Produção João Leite está preparado para abastecer cerca de 3 milhões de habitantes da região metropolitana de Goiânia até o ano de 2045. Projeção considerada segura pela empresa, já que contempla o aumento da população na região metropolitana até a data. No entanto, pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Goiás (UFG) constatam falta de cuidados com Microbacia do Ribeirão João Leite, que alimenta a represa, o que pode reduzir a vida útil e comprometer o abastecimento de água.

O levantamento da UFG detectou que os córregos que contribuem para a represa estão comprometidos pelo avanço de áreas de plantio e pastagem de propriedades rurais nas áreas de proteção permanente (APA) em toda a região. Segundo a professora de Educação e Planejamento Ambiental da UFG, Sandra de Fátima Oliveira, que fez o estudo, o caso é grave e, se não for revertido, o abastecimento de água pode ficar comprometido em cinco, no máximo, dez anos.

Durante expedições à microbacia, que alimenta a barragem, a professora observou diversos pontos em que margens dos córregos cederam, o que demonstra problemas de permeabilização do solo, ocasionada pelo desmatamento das áreas ao redor. Sandra Oliveira afirma que o avanço do desmatamento junto aos córregos causa assoreamento e compromete o ciclo das águas. “A falta de cuidado com a mata ciliar é visível por todo o traçado do rio e afluentes. Além disso, não há tratamento do esgoto, que é lançado pelos municípios próximos. A água que chega à represa é poluída”, diz.

A pesquisadora afirma ainda que não há, por parte do Estado, cuidados de impacto ambiental sobre as ações nos rios, nem mesmo medidas de minimização da ocupação do solo nos arredores da construção da represa. A falta dessas medidas pode alterar a vazão do rio e comprometer seriamente o abastecimento de água para a região metropolitana. “A microbacia do Ribeirão João Leite precisa ser cuidada como um recém-nascido. No entanto, não há nenhum cuidado. Já não há mais mata ciliar, as margens estão erodidas. Podemos ter problema parecido com o que há em São Paulo”, diz.

Monitoramentos, realizados desde 1979, embora não conclusivos, demonstram a diminuição de vazão do rio e a relação dessa mudança com a ocupação humana. Dados da UFG alertam que a bacia do Ribeirão João Leite passou por um processo intenso de desmatamento nas últimas décadas. Os números informam que a área ocupada por vegetação nativa passou gradativamente de 262,9 quilômetros quadrados (km²) para apenas 126,6 km², se limitando quase à delimitação do Parque Altamiro de Moura Pacheco. Os dados são de 2005.

O temor é que os municípios nos arredores da barragem consigam avançar ainda mais sobre a área de proteção ambiental. A limitação do poder econômico desses municípios serve de argumento para a diminuição das áreas de preservação. “A pressão é forte para a diminuição das áreas protegidas. Como quase não há controle, o avanço do desmatamento pode piorar e agravar um problema que já tem data para acontecer”, alerta a pesquisadora.

 

 

Ribeirão Caldas seria opção viável

10 de novembro de 2014 (segunda-feira)

Caso o Sistema Produtor João Leite entre em colapso, como ocorreu no Reservatório Cantareira, em São Paulo, há a possibilidade de utilizar o manancial do Ribeirão Caldas, na região do município de Bela Vista. No entanto, a previsão para começo de obras de represamento do rio é somente para 2025. Segundo aponta o projetista do Sistema Produtor, Francisco Humberto Rodrigues, o planejamento para o uso do João Leite foi feito para o longo prazo.

Rodrigues afirma que o manancial João Leite é imenso e permitiu o planejamento para 35 anos de utilização, quando normalmente é feito para 20 anos. Além disso, foi contabilizado não só o aumento de população e para onde está a direcionado o crescimento da cidade, através de estudo de projeção demográfica, com avaliação da capacidade do sistema e as linhas. “O João Leite pode lançar 8 mil litros por segundo, suficiente para abastecer uma cidade de 3 milhões de habitantes, o que aliado à capacidade do Meia Ponte, de 2,5 mil litros por segundo, é mais que suficiente”, diz.

Por outro lado, a professora de Educação e Planejamento Ambiental da Universidade Federal de Goiás, Sandra de Fátima Oliveira, aponta que o manancial do Ribeirão Caldas já está comprometido pelo avanço do agronegócio na região. Para ela, o desmatamento causado pelas plantações de soja compromete e polui o rio, inviabilizando seu uso em longo prazo. “Tanto o manancial do João Leite, quanto o de Caldas já sofrem com a ação humana. O Estado não está fazendo nada em relação a isso. Podemos ficar sem esses rios em breve”, alerta a professora.

 

 

Secretaria nega problema

10 de novembro de 2014 (segunda-feira)

O superintendente de recursos hídricos da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Bento de Godoy Neto, confirma que uso irregular do solo pode afetar a bacia do Ribeirão João Leite e afetar a distribuição de água na região metropolitana de Goiânia. Ele contesta que o desmatamento esteja descontrolado e nega perigo de futuro racionamento de água.

Ele diz que a região é monitorada pelo Estado e que as erosões e avanços nas áreas de proteção ambiental foram fruto da falta de legislação. Argumenta que a secretaria realizou estudos em parceira com Agência Nacional de Água o que gerou acordo entre órgãos públicos para a contenção do uso indiscriminado do solo.

 

Fonte: O Popular

Categorias: clipping