Ainda em busca de documentos

Data: 12/11/2014

Veículo: O Popular

 

 

Processo de beatificação do religioso ainda depende de provas mais robustas dos milagres

 

 



Wildes Barbosa

 

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Maria Lúcia ao lado do altar montado na Matriz de Campinas em homenagem a pe. Pelágio

 

 

O processo de beatificação do padre Pelágio Sauter ainda depende de documentação para avançar. O Vaticano concedeu no dia 7 o título de venerável ao padre alemão, que viveu 42 anos em Trindade, mas ainda há certa dificuldade em conseguir provas cabais para a comprovação dos milagres atribuídos ao religioso. O principal caso analisado é da professora Maria Lúcia Miranda, que teria sido curada de escleroderia sistêmica progressiva ainda na década de 1970.

O caso da suposta cura de Maria Lúcia já foi apreciado duas vezes pelo corpo médico do Vaticano. No entanto, não avançou por falta de comprovação mais robusta. A principal prova apresentada para o pedido de beatificação e canonização do padre Pelágio é declaratória: o depoimento do médico Alexandre Hermes Azevedo, que tratou da professora em Trindade na época que apresentou os sintomas.

O vice-postulador da Causa de Beatificação do Padre Pelágio, padre Clóvis de Jesus Bovo, afirma que, embora as duas primeiras tentativas tenham sido negadas pelos médicos romanos, há uma disposição da Igreja para o reconhecimento. “Médicos do Vaticano indicaram que o caso pode ser comprovado. Acredito que os médicos que fizeram a avaliação anterior não tenham analisado o caso de forma devida”, diz. Padre Clóvis deve encaminhar novo pedido, agora com supervisão de uma especialista em pedidos de beatificação de Aparecida de Norte.

PRONTUÁRIO

O problema poderia ser resolvido com o prontuário médico com as informações do tratamento recebido por Maria Lúcia no Hospital das Clínicas (HC), da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, em meados da década de 1970. A documentação não foi encontrada por padre Clóvis durante as buscas nos arquivos do hospital. Segundo o padre, a justificativa do hospital é que o prontuário pode ter sido removido por estudantes em busca de casos raros e ter se perdido. Ou mesmo estar no arquivo morto do hospital.

A carteira de Maria Lúcia, com os dados e comprovação de internação no HC, também seria outro documento que daria maior robustez ao processo de beatificação de padre Pelágio. No entanto, o documento se perdeu numa das idas e vindas nas análises de documentos em órgãos brasileiros. “Qualquer um desses documentos seria de grande ajuda. De qualquer forma estamos nos preparando para uma defesa mais fundamentada. O título de venerável já é um grande indicativo de que tudo correrá bem”, acredita padre Clóvis.

DOENÇA

Para quem tem fé um copo de água cura”, disse Santa Maria de Castro, mãe de Maria Lúcia quando soube da doença da filha, ainda na década de 1970. A doença era novidade em Trindade, onde sempre morou. A esclerose sistêmica progressiva ataca a pele e pode comprometer órgãos internos, causando inclusive a morte do paciente. Foi detectada em Maria Lúcia aos 16 anos e poderia ter comprometido a vida dela.

A professora da escola primária Professor Esmeraldo Monteiro conta que tudo começou quando foi acordada pela mãe após apresentar corpo rígido durante o sono. Na época, não pesava mais de 29 quilos, tinha as mãos roxas e frias e não conseguia engolir alimentos sólidos. Foi encaminhada para avaliação em Trindade, aos cuidados do médico Alexandre Azevedo. Ele reconheceu a doença e encaminhou a adolescente para Goiânia.

Já na capital, os médicos do Hospital das Clínicas teriam diagnosticado a doença e mandaram internação imediata. Maria Lúcia diz que ficou internada por 60 dias e passou a ingerir cerca de 20 comprimidos na tentativa de conter a doença. Após a internação, seguiu por três meses entre Goiânia e Trindade para os tratamentos necessários. Até que aconteceu o milagre. A partir daí, nunca mais precisou ir ao médico.

Entenda o caso

Fruto de uma novena

O milagre atribuído por Maria Lúcia Miranda a padre Pelágio foi fruto de novena da madrinha e mãe de Maria Lúcia. Quando ainda estava internada, as duas, passaram a pedir intervenção ao religioso para a cura. Na época, o corpo do padre estava enterrado em Goiânia e era alvo da veneração de vários fiéis. A professora não sabe determinar quando foi curada, mas sabe que foi com a ajuda do padre que se livrou da doença.

Em nova visita ao médico Alexandre Hermes Azevedo, de Trindade, ele recomendou que, se a moça acreditasse mesmo na cura teria que largar os remédios. “Os medicamentos eram a base de hormônio masculino, o que aumentou os pelos do meu corpo. Buscamos Azevedo para pedir orientação. Aquela foi a última”, lembra. A partir daquele dia nunca mais buscou médicos para tratar da doença. Voltou a fazer novos exames em 1997, por ocasião do pedido de beatificação de padre Pelágio. Não foi detectada doença. Pelo menos 90 pessoas prestaram depoimentos para o pedido de beatificação. Tudo foi condensado em um livro de mais de 600 páginas remetido ao Vaticano, em Roma.

 

 

Fonte: O Popular

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