Enem pode estar mais seguro

Data: 13/11/2014

Veículo: Diário da Manhã

Link: http://www.dm.com.br/texto/197229

Na última semana, escrevi neste espaço um texto sobre as fragilidades do Exame Nacional do Ensino Médio, particularmente quanto à segurança na aplicação das provas, que foram realizadas no sábado e domingo. Novamente, como cidadão, participei do certame como candidato. Posso afirmar que o nível de proteção contra fraudes melhorou significativamente em relação à edição passada, pelo menos em Goiânia.

Não se trata de opinião isolada. Conversei com outros candidatos, que também fizeram o exame. Houve unanimidade sobre a maior fiscalização nos ambientes das provas. Em todos os locais verificados havia, no mínimo, um policial dentro do prédio. O estudante, antes de ingressar na sala, tinha de apresentar os pertences e lacrá-los dentro de um saco preto. O documento de identidade era conferido com a assinatura.

Embora houvesse alguma dificuldade por parte dos fiscais em identificar os assentos, a distribuição atendeu aos requisitos padrões em concursos públicos, com ordenamento adequado em relação ao tipo de prova. Os selos de garrafas de água mineral eram devidamente removidos e o fiscal verificada pessoalmente cada pacote de chocolate ou barra de cereais.

A ida do candidato ao banheiro também sofreu mudanças. No último Enem, todo estudante era acompanhado por um fiscal até a porta do banheiro. Caso houvesse dois examinandos dentro do local ao mesmo tempo, um fiscal entrava junto para evitar qualquer comunicação. Na saída, independentemente das vezes em que fosse ao cômodo, o sujeito teria de se submeter ao detector de metais. É uma novidade nos últimos anos. 

A fiscalização mais rígida do Enem coincide com o aproveitamento integral da nota para ingresso nos cursos de graduação da Universidade Federal de Goiás. Não deve ser coincidência. Alguns fiscais utilizaram uniformes que traziam a logomarca da UFG atrás. Um deles me contou que houve um treinamento exaustivo para os fiscais de prova. Foi quase perfeito, neste aspecto.

Faltam ainda a verificação das digitais por papiloscopista. O que era rotina nos vestibulares da UFG simplesmente não ocorre durante o Enem. Ainda que se utilize o método de coleta de digital pelos próprios fiscais, no cartão resposta, haveria maior segurança. Também se poderia retomar o expediente da vídeo identificação dos candidatos. Ainda há espaço para reforçar a legitimidade do certamente. Mas a evolução existe e a organização melhorou.

Quanto ao conteúdo da prova, argumentei na semana passada que o currículo brasileiro para o ensino médio é um absurdo. Há profusão de disciplinas, desconectadas entre si, excesso de informação e prazo curto para cumprimento das metas. A confusão se reflete no teor da prova. Para dar conta do volume de conhecimento, o exame é extenso, cansativo e ineficiente.

São quatro provas com 45 questões cada: linguagens, matemática, ciências humanas e ciências naturais. A prova de linguagens passou a adotar mais figuras de linguagem, sintaxe e literatura. Antes era um grande bloco de interpretação de texto. Hoje, faz uma bela e cuidadosa abordagem da literatura nacional. 

A prova de matemática podia ser resolvida, há dez anos, apenas com regra de três e noções básicas de álgebra. Hoje, está mais complexa. Felizmente, a imensa maioria das questões se relaciona a problemas do cotidiano, permitindo ao candidato razoável índice de acertos. Neste ano, a prova foi extensa. Em média, os alunos consumiram três horas – das cinco e meia disponíveis – apenas com cálculos.

A prova de Ciências da Natureza, que reúne Física, Química e Biologia, parece um tanto curto para a extensão do currículo. Desta vez, em Física por exemplo, predominou a discussão sobre ondulatória – antes, a regra era cinemática ou eletricidade e magnetismo. Química também foi abrangente, com boas questões de Orgânica e Físico Química. Biologia, como sempre, abordou evolução e meio ambiente.

O Enem é uma prova em constante evolução. Fiz o último exame com a sensação de que há boas novidades no conteúdo e na forma. Mas o certame precisa de uma identidade própria. Vai ser uma prova de seleção para universidades? De certificação do Ensino Médio? De aferição das competências dos egressos? O ideal seria um exame para cada proposta. Mas, dentro do possível, houve melhoras sentidas. Vamos ver o que vai acontecer nos próximos anos.

Fonte: Diário da Manhã

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